
Mas quem foi que disse que eu não gosto de futebol? Quantas vezes fiquei, no domingo à tarde, na frente da televisão para ver um bom jogo de futebol?! Gosto dos lances muitas vezes caóticos do futebol, dos dribles inesperados, dos lances inteligentes, mas gosto também da velocidade, do domínio da bola, das belas e cinematográficas defesas, do sentido de conjunto que é próprio de um esporte coletivo. Gosto, sempre gostei. Quando criança, fiz uma escolha como toda criança faz: movido por alguma razão que nos foge, que não somos capazes de explicar. Pelo menos quando não se tem um pai que dá inteira liberdade de escolha ao filho, comprando camisetas de seu clube, comprando uma bola com suas cores, levando-o ao estádio apenas quando seu time joga. Pois eu, literalmente, não tive um pai assim. Ele detestava futebol, e torcer, lá em casa, era coisa que se fazia meio clandestinamente. Não me lembro como foi, só sei que um dia eu disse: torço para o meu time. E permaneço fiel àquela escolha até hoje. Sou torcedor.
O que me parece
incompreensível é que o mesmo lance que vale para grandes clubes, não valha
para pequenos. Você sabe do que estou falando. Se o clube é pequeno, o jogador
estava na banheira. Se é grande, estava na mesma linha. Ou no momento do
lançamento … Mas isso quando se trata de comentaristas de futebol. Existe um
deles, que transmite jogos e que torce tão desavergonhadamente que ninguém mais
lhe dá crédito. E por uma razão muito simples: qualquer torcedor de A vê tudo
ao contrário do que vê o torcedor de B quando ambos se confrontam. O primeiro
diz que foi pênalti; o segundo jura por todos os santos brasileiros e
estrangeiros que o juiz roubou. E não adianta discutir: nunca vão chegar a um
acordo. As mesmas evidências vão conservar seus sentidos opostos.
Presumo ter
conseguido demonstrar que entendo mais de futebol do que vocês supunham. Tudo
bem, não me parece que entender de futebol seja uma falta assim tão grave.
Alguns entendidos ainda têm salvação.
O que não pode é vocês
me exigirem uma fantasia verde-amarela, é vocês esperarem de mim que saia
gritando alucinado pelas ruas. Isso nunca fiz, jamais vou fazer. Jogue quem
jogar, vou ter consciência de que não passa de um jogo. Posso até torcer, mas
comedidamente, sem grandes expansões emocionais, porque é um jogo, não a
salvação da lavoura. Se vocês me dissessem que do jogo depende a eliminação do
analfabetismo, a diminuição da violência urbana, o fim da miséria e de outras
mazelas sociais, então, meu amigo, acho que ninguém gritaria mais do que eu.
Ah, e não esqueçamos que no campo estão dois adversários.
Não dois inimigos, como muitos órgãos da imprensa tentam nos fazer crer.
Por que tudo isso,
agora? Sábado, dia 19 de maio, começou o longo e exaustivo Brasileirão. Aviões
de Belém do Pará estarão riscando nosso céu cor de anil, eles, com suas
turbinas barulhentas, para pousar em Porto Alegre. As vinte melhores (?)
equipes brasileiras de futebol estarão voando nas asas da Panair, e algumas
pessoas estarão tão preocupadas com o sobe e desce ‒ a zona do rebaixamento, a
lista da Libertadores e outros assuntos semelhantes – que vão esquecer o dilema
do povo grego, a mudança de rumo proposta por Hollande, o desaquecimento da
economia brasileira, as ginásticas que teremos de fazer para não sermos
atingidos pela crise econômica mundial, ou, pelo menos, para não sermos
atingidos mortalmente.
Panis et circensis.
Ah, Nero, Nero, que visão clara era a tua dos anseios
populares.
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