quinta-feira, 21 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (15)

VALE DA PAZ

Pág. 74 - "Mande e Ana partiram logo de manhã. Também a família de Mungongo, depois do funeral, que consistiu em embrulhar o corpo numa esteira e enterrá-lo."

"- E nós quando vamos? - perguntou a Muari à noite, quando os três estavam à volta da fogueira, depois de comerem. - Amanhã partem os outros. Ficamos os três aqui sozinhos?

- Primeiro tenho de ir explicar o caso ao pai da Munakazi - disse Ulume. Virando-se para a segunda mulher: - Queres ir também ver os teus pais?
Munakazi fez um muxoxo breve e quase inaudível. Não respondeu."


Pág. 75 - "Nessa noite foi se deitar com Munakazi. Ela aceitou as carícias e o amor que ele lhe fez com ímpeto, mas não respondeu às suas perguntas. Gozou com o amor e não o escondeu, com os habituais gemidos que tanto envaideciam o marido, apesar de ser uma entorse nas tradições."
"Foram muitos os choros da mãe de Munkazi e as lamentações do pai, com os azares seguidos do casal. Compreendiam o atraso do pagamento do alembamento. Mas não se conformavam com a ideia de a filha ficar tão longe deles..."
"No dia seguinte se meteram a caminho do Vale da Paz. Munakazi continuava sem falar, mas obedecia."
(...)
Pág. 76 - "Sofreram, sobretudo a Muari, mas chegaram ao Vale da Paz antes do pôr do Sol."
(...)
Pág. 77 - "Os primeiros tempos foram difíceis. Foi preciso edificar as duas cubatas, uma para cada mulher. (...) Desmataram os terrenos, à força de machado, acumulando ao mesmo tempo muita lenha que alimentaria as fogueiras."
"Chegou um dia em que os trabalhos principais estavam feitos."
P)ág. 78 - "O trabalho principal fora da aldeia também estava feito. As terras tinham sido desmatadas, a mandioca plantada e o milho semeado. As nakas também estavam prontas, com as plantas a crescer."
(...)
Pág. 79 - "A fome, aquela fome, estava mais uma vez derrotada."
"Só a tristeza de Munakazi não desaparecia."
Pág. 80
(...)
"(...) Ulume bebeu água e desceu o morro, para o sítio das bananeiras e das antigas nakas, onde de vez em quando ainda vinham buscar comida, sobretudo cachos de bananas.
Ao se aproximar do vale arborizado, sentiu um cheiro nauseabundo. De carne em putrefação. (...) Avançou no sentido do cheiro e deparou com um corpo de mulher, já em estado muito avançado de decomposição. (...) Porque a causa da morte da mulher tinha sido uma mina, tinha ouvido falar dos efeitos, sobretudo por Mande que tinha ganho experiência dessas coisas quando andou raptado."
Pág. 81 - "Ele tinha de ir embora. Mas como? Se tinha rebentado uma, podia haver mais."
(...)
"Resolveu voltar imediatamento para o Vale da Paz, onde não havia minas."
(...)
Pág. 82 - "(...) Mas se fosse ao kimbo dos pais de Munakazi agora, tinha de dar uma volta para evitar o caminho directo que podia estar minado e isso queria dizer que lá chegaria de noite. Era perigoso.
Era perigoso mas tinha de ir."
Pág. 83
(...)
"Munakazi chorou muito com a perda do irmão e com a miséria que se abatera sobre a família."
(...)
"(...) Curioso, lembrou então, não me falaram da vitela que lhes paguei de alembamento e que agora já era uma vaca. Se os soldados a tivessem levado, não podiam ter deixado de a referir, uma vaca naquela miséria é fortuna que nunca se esquece. Concluiu daí que escapara ao saque. Por milagre, certamente."

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