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segunda-feira, 2 de julho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (ÚLTIMA)


O QUE É FEITO DE MUNAKAZI?

Pág. 113 - "Luzolo conhecia aquela bebida que vinha na garrafa oferecida por Kanta. Mas não aceitou beber à noite, quando a abriram junto da fogueira, para a Muari e Mário provarem. Quem mais gostou foi a muda, que bebia e dançava, toda animada. Era a primeira prenda que a Muari recebia do seu filho Kanda, por isso fez questão em beber, mas se via que não apreciou, embora não pronunciasse nenhum juízo. Ulume ainda insistiu com Luzolo, mas depois percebeu, o filho nunca aceitaria coisa vinda das mãos do irmão."
Pág. 116 - "(...) Ulume estalou a língua e a mandou se deitar, dizendo amanhã vai nascer de novo o

terça-feira, 26 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (19)

Kimbo
A volta do filho mais velho

Pág. 105 - "Nesse tempo todo em que o calcinado do kimbo foi sendo comido pelo verde que rompia da terra e se enroscava nos troncos enegrecidos, em que os buracos revolvidos pelos obuses se cobriram novamente de capim, parecia que nada acontecia. (...) Mas houve um acontecimento que os trouxe para a vida. (...) E foi o coração da Muari que primeiro reagiu, apesar de olhar na contraluz, Luzolo, Luzolo."
"Era de fato o filho mais velho."
Pág. 106 - (...) Fui andando por aí durante duas semanas, demorei duas semanas até chegar a este vale, vocês estão bem escondidos."

sábado, 23 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (18)

TUDO OUTRA VEZ?

Pág. 97 - "Depois houve de novo um período com o vazio da rotina. Meses ou anos. Quem sabe, quem os media? "
"E mujimbos contraditórios começaram a chegar"
"Mas também vinham outros a referir encontros com soldados ali perto."
"E o que temiam um dia aconteceu. Homens de verde e arma na mão desceram a encosta ocidental, com todos os cuidados da desconfiança. Revistaram os quatro kimbos do vale, não encontraram inimigos, nem uma pistola, reuniram a população, falaram eram amigos, os nossos, queriam apenas comida e saber se não tinham visto movimentações de outros soldados, o inimigo..."

sexta-feira, 22 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (17)

NOTÍCIAS DE CALPE

Pág. 90 - "Passaram anos como se de meses se tratassem. Não acontecia nada. Só eles iam envelhecendo. A guerra não chegava ali, embora mutos sinais a anunciassem cada vez mais perto."
(...)
"As lavras e as nakas tinham alastrado, todo o vale era aproveitado para alimentar uma população cada vez mais numerosa.Havia quatro kimbos, muito próximos uns dos outros."

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (16)

QUANDO PARECIA TUDO CAMINHANDO BEM...

Pág. 84 - "Os tempos foram passando. Uma vez e outra visitaram os pais de Munakazi e eles recusaram abandonar a sua aldeia. De novo foram assaltados por uma tropa e mais comida foi roubada. E a irmã mais nova de Munakazi foi com os soldados, a mãe dizia que fora raptada, o pai, furioso, dizia ela até foi a rir, era mesmo o que queria."

quinta-feira, 21 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (15)

VALE DA PAZ

Pág. 74 - "Mande e Ana partiram logo de manhã. Também a família de Mungongo, depois do funeral, que consistiu em embrulhar o corpo numa esteira e enterrá-lo."

"- E nós quando vamos? - perguntou a Muari à noite, quando os três estavam à volta da fogueira, depois de comerem. - Amanhã partem os outros. Ficamos os três aqui sozinhos?

- Primeiro tenho de ir explicar o caso ao pai da Munakazi - disse Ulume. Virando-se para a segunda mulher: - Queres ir também ver os teus pais?
Munakazi fez um muxoxo breve e quase inaudível. Não respondeu."

quarta-feira, 20 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (14)

INÍCIO DOS DESACORDOS

Pág. 64 - "Ulume e Munakazi partiram para o kimbo novo, na procura de cabritos."
"Foi uma fatigante viagem, pois o terreno era quase sempre a subir. A Munda era uma serra alta e não se entra facilmente no seu coração. O carreiro muitas vezes desaparecia por correr sobre rochedos, mas os do kimbo novo tinham tantas vezes explicado todos os acidentes, que eles acabavam sempre por encontrar o caminho mais à frente."

terça-feira, 19 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (13)


ENFIM, A FELICIDADE



Pág. 56 - "Depois de saber da novidade e de marcar a data e as modalidades do casamento com o pai de Munakazi, para o que foi muito ajudado pela Muari, Ulume disse para esta, vês, a granada tinha mesmo razão. Mas chegaste a duvidar, retorquiu a mulher."

"Na primeira noite se apercebeu que Munakazi não era de facto ufeko, pois a penetração foi fácil. Pouco se importou que ela já tivesse conhecido homem, nem a interrogou sobre o assunto. E não se importou também que ela mostrasse o gozo que sentia no acto do amor, atitude contrária à tradição. Antes o encheu de vaidade, pois pela primeira vez sentia prazer de dar prazer a uma rapariga."

segunda-feira, 18 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (12)

O QUE PODERIAM ESTAR PENSANDO DELE OS AMIGOS?

Pág. 49 - "De repente, Ulume descobriu que todo o kimbo estava ao corrente das suas dificuldades. Mande tinha chegado na véspera e já lhe perguntou, cúmplice, então queres casar outra vez e a rapariga não te atende."
"Entendia agora os risinhos abafados das mulheres e as conversas interrompidas dos homens quando chegava ao njango. (...) Ele e a Muari tinham demonstrado um ao outro que todos ficavam a ganhar com aquele casamento."

domingo, 17 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (11)

AS AFLIÇÕES DE ULUME

Pág. 45 - "Os dias foram passando, iguais. Os que abandonaram o kimbo para criarem um novo a um dia de marcha, bem no meio da Munda, mandaram informações de que já estavam instalados, com cubatas novas. Tinha muita água, um regato ao lado, uma mata à volta, terras boas para o milho."
"Ulume pensou já ter dado tempo suficiente para Munakazi se decidir. Mas Muari não o d eixou voltar para a resposta. Sou eu que vou, estas coisas devem ser tratadas entre mulheres. (...) Ulume reconheceu as razões de Muari e lá foi ela parlamentar com a pretendida."

sábado, 16 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (10)

PEDIDO FORMAL DE CASAMENTO

Pág. 38 - "O kimbo de Munakazi ficava mais afastado dos caminhos, por isso recebia muito menos visitantes incómodos. Os residentes ouviram as notícias trazidas por Ulume com inquietação. Depois de passar o mujimbo completo dos últimos acontecimentos, Ulume combinou uma conversa com o pai de Munakazi a sós, na sua residência."

sexta-feira, 15 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (9)

AO ESCAPAR ESCOLHEU

Pág. 33 - "Aconteceu então o episódio da granada. Foi assim.
Um grupo de soldados chegou e pediu comida. (...) A comida demorou a chegar. Já rareava e não havia boa vontade, então eles só nos conhecem quando têm fome? Nem deu tempo para comerem.
Outro grupo entrou pela aldeia aos tiros."

quarta-feira, 13 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (8)

OS SOLDADOS CHEGARAM

Pág. 28 - "Começaram então as confusões. Todos nelas falavam, contavam pormenores, vatícínio eram feitos. E ninguém compreendia nada do que passava. Pelo menos os velhos."
Um dia chegou um homem à aldeia, ferido, com a roupa em farrapos sanguinolentos. Suplicou para o esconderem.Eles nem tiveram tempo para pensar no que fazer. Apareceram soldados, quatro ao todo, pegaram no homem, empurraram-no para uma árvore, uma rajada atordoou os pássaros e as gentes."

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (7)

FESTA NA ALDEIA

Pág. 24 - Das guerras e fomes anteriores ainda trazia as cicatrizes. Sobretudo das duas filhas que tinham morrido de doença. Ou fome, quem sabe? A Muari nunca mais tinha engravidado."
"No princípio pensou que era apenas um passeio, todos os jovens queriam conhecer Calpe, íman que os atraía mais que um dourado favo de mel. Passou tempo e Luzolo nunca mais apareceu. Notícias chegaram dizendo que agora era soldado."
"Perdeu o segundo filho, da mesma maneira que o primeiro."

terça-feira, 12 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (6)

OS MAIS JOVENS COCHICHAM

Pág. 19 - "Ulume, no cimo do morro da sua infância, pensava na insânia dos jovens, opostos em brigas que ninguém entendia."
"... às vezes davam lição aos mais velhos. Como quando destronaram o soba-cazumbi."
"(...) Era fraco e parecia bom, no princípio. Depois começou a fazer negócios com os brancos, a lhes vender homens que iam para as terras de café."

domingo, 10 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (5)

TEMPOS DE PAZ E FARTURA

Pág. 16 - "Ulume aproveitou bem aquele tempo de paz. Com Muari, a primeira mulher, e mais os dois filhos, alargou as plantações. A lavra da mandioca foi limpa, a naka recebeu milho e batata e legumes, o gado se multiplicou."
"Ulume ia a meio da tarde para o cimo do morro contemplar o seu mundo e pensar, enquanto se não dava o instante da paragem súbita do tempo. Pensava no que fora e no agora, nas coisas que tinham mudado. Não havia mais sobas, os brancos tinham acabado com eles. E, sem os brancos, ninguém que mandava agora naqueles kimbos."

sábado, 9 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (4)

O PODER DOS SOBAS E DOS BRANCOS

Pág. 13 - "Os mais velhos do kimbo contavam, ainda Ulume era pequeno.

Nesta terra sempre passaram guerras. Um soba grande queria anexar uma chana boa para a caça? Mandava tocar o ngomas, tambores de guerra, reunia o exército de camponeses, ocupava o território. (...) Ganhava um ou outro, o certo é que muita gente morria. Durante o tempo da guerra não se podia cultivar. Os celeiros ficavam vazios, a fome vinha."   "Tempos depois, o soba local cobiçava novos territórios. Os espíritos dos antepassados, incomodados na prisão das suas mahambas, limitados nas copas das árvores em que se abrigavam, exigiam espaço."
"Sempre foi assim, desde os avós dos avós. Mais tarde vieram os brancos. Exércitos de negros de outras regiões, comandados por brancos, vinham ocupar terras e apanhar escravos em guerras de kuata-kuata. As aldeias ficavam quase desertas, só velhos e crianças sobravam. Para morrer de fome e desespero pouco depois."

sexta-feira, 8 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (3)

ULUME QUER UMA SEGUNDA ESPOSA

Pág. 11 - "Houve um tempo anterior a tudo, há sempre, não é mesmo?
Munazaki era dum kimbo próximo, a duas horas de marcha na chana para ocidente. Era um kimbo mais pequeno, mais pobre, retirado dos caminhos principais que cruzavam a Munda. Ulume reparou nela em noite de festa."

quinta-feira, 7 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (2)

TENTANDO ENTENDER A TERRA

Pág. 10 - "Ulume, o homem, olha seu mundo.
Por vezes a terra lhe parece estranha. Fica num planalto sem fim, embora saiba que tudo acaba no mar. Chanas e cursos de água por toda parte. Junto dos rios tem florestas, nalguns pontos apenas muxitos, aquelas matitas em baixas húmidas."
"Palmeiras de folhas irrequietas rodeim o kimbo, casando com mangueiras e bananeiras, pintando de verde escuro os amarelos e verdes esbatidos do capim e do milho."

quarta-feira, 6 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (1)

ARTHUR CARLOS MAURÍCIO PESTANA DOS SANTOS, ou apenas PEPETELA, como assina suas obras, nasceu em Benguela, Angola em 1941. Aos 17 anos foi para Lisboa a fim de estudar, envolvendo-se na luta pela independência de seu país.

Após a vitória, Pepetela, formado em sociologia, ocupou cargos ministeriais importantes em Angola, antes de se dedicar ao magistério.

A partir de 1983 abandonou a política para dedicar-se à literatura, tendo produzido vasta obra de ficção.
Em 1997 foi laureado com o Prêmio Camões, considerado o mais importante prêmio literário em língua portuguesa.

Este romance, Parábola do Cágado Velho, do qual, a partir de hoje, publicaremos fragmentos e comentários, mais daqueles do que destes, assim começa em sua