ULUME QUER UMA SEGUNDA ESPOSA
Pág. 11 - "Houve um tempo anterior a tudo, há sempre, não é mesmo?
Munazaki era dum kimbo próximo, a duas horas de marcha na chana para ocidente. Era um kimbo mais pequeno, mais pobre, retirado dos caminhos principais que cruzavam a Munda. Ulume reparou nela em noite de festa."
"Ulume era bem mais velho, casado com a Muari e tendo filhos já grandes, talvez mais velhos que a rapariga. A partir da noite em que seus olhos caíram sobre os pés convergentes de Munazaki, se encontraram mais vezes nas festas ou cerimónias rituais e ele a fitava com agrado. Apenas.
Mas sucedeu a cena da granada, como um aviso dos antepassados. A granada vinha no ar e ele deitado no meio do talude. A granada caiu a dois metros. Placado ao solo, encostou a cabeça na terra e pensou vou morrer. (...) Olhou o céu azul pela última vez e então a imagem de Munazaki se recortou, nítida, na luminosidade do dia. (...) Nada sentia no corpo, não tinha sensações, só a saudade era dolorosa."
Pág. 12 - "O sentimento de perda acompanhou-o, mesmo quando se apercebeu de continuar vivo."
(...)
"Decidiu ali, sem ainda saber quanto estava ferido, Munazaki tem de ser minha. Não fazia senão seguir a sabedoria vinda de muito atrás, pois se alguém que pensa morrer tem saudade de uma mulher, então é inútil lutar contra esse amor avassalador, o mais sensato é conviver com ele. Sabedorias antigas trazidas por todos os cágados do mundo. E Ulume respeitava os ensinamentos dos antepassados, resguardados nas mahambas que se enterram à entrada dos kimbos ou nas encruzilhadas dos caminhos (...) Nunca os seus lábios proferiram qualquer blasfémia contra os antepassados, ou contra o espírito que agitava o vento. Como podia então desprezar ou mesmo só ignorar o sinal evidente que a granada lhe deu? A sua decisão de ter Munazaki era irrevogável, ele sabia, e nós a partir de agora como vamos esquecer?
Glossário:
Munda - morro
mahamba - estrado encimado por chifres para proteção das aldeias.
Pág. 11 - "Houve um tempo anterior a tudo, há sempre, não é mesmo?
Munazaki era dum kimbo próximo, a duas horas de marcha na chana para ocidente. Era um kimbo mais pequeno, mais pobre, retirado dos caminhos principais que cruzavam a Munda. Ulume reparou nela em noite de festa."
"Ulume era bem mais velho, casado com a Muari e tendo filhos já grandes, talvez mais velhos que a rapariga. A partir da noite em que seus olhos caíram sobre os pés convergentes de Munazaki, se encontraram mais vezes nas festas ou cerimónias rituais e ele a fitava com agrado. Apenas.
Mas sucedeu a cena da granada, como um aviso dos antepassados. A granada vinha no ar e ele deitado no meio do talude. A granada caiu a dois metros. Placado ao solo, encostou a cabeça na terra e pensou vou morrer. (...) Olhou o céu azul pela última vez e então a imagem de Munazaki se recortou, nítida, na luminosidade do dia. (...) Nada sentia no corpo, não tinha sensações, só a saudade era dolorosa."
Pág. 12 - "O sentimento de perda acompanhou-o, mesmo quando se apercebeu de continuar vivo."
(...)
"Decidiu ali, sem ainda saber quanto estava ferido, Munazaki tem de ser minha. Não fazia senão seguir a sabedoria vinda de muito atrás, pois se alguém que pensa morrer tem saudade de uma mulher, então é inútil lutar contra esse amor avassalador, o mais sensato é conviver com ele. Sabedorias antigas trazidas por todos os cágados do mundo. E Ulume respeitava os ensinamentos dos antepassados, resguardados nas mahambas que se enterram à entrada dos kimbos ou nas encruzilhadas dos caminhos (...) Nunca os seus lábios proferiram qualquer blasfémia contra os antepassados, ou contra o espírito que agitava o vento. Como podia então desprezar ou mesmo só ignorar o sinal evidente que a granada lhe deu? A sua decisão de ter Munazaki era irrevogável, ele sabia, e nós a partir de agora como vamos esquecer?
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mahamba - estrado encimado por chifres para proteção das aldeias.
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