O PODER DOS SOBAS E DOS BRANCOS
Pág. 13 - "Os mais velhos do kimbo contavam, ainda Ulume era pequeno.

"Sempre foi assim, desde os avós dos avós. Mais tarde vieram os brancos. Exércitos de negros de outras regiões, comandados por brancos, vinham ocupar terras e apanhar escravos em guerras de kuata-kuata. As aldeias ficavam quase desertas, só velhos e crianças sobravam. Para morrer de fome e desespero pouco depois."
Pág. 14 - "E depois acabaram as guerras de kuata-kuata. Os brancos se fixaram em povoações, fundaram Calpe, a cidade do sonho. De Calpe vinha tudo, o bom e o mau.. Para Calpe fugiam os jovens, à procura do sonho."
"Falavam assim os sekulos, os kotas, os makulundus do kimbo, nomes de línguas diferentes para designar os mais velhos, os mais sábios, quando Ulume era pequeno.
E já Ulume estava casado e tinha filhos pequenos, estoirou mesmo a grande revolta."
"A guerra voltou. Aviões e canhões destruíram os kimbos e as gentes tornaram a se entranhar nas profundezas das Mundas para sobreviver e lutar."
"Um dia aconteceu como aquele instante da tarde. A guerra acabou e tudo ficou estranhamente parado e silencioso, só o mujimbo corria. Eles se olhavam, nas Mundas, sem acreditar nas palavras: a paz era definitiva? Muitos brancos abandonaram as terras, mesmo de Calpe partiram."
(...)
Pág. 15 - "Foram os tempos anteriores a tudo isto que passa hoje. Os tempos anteriores a Munakazi. Há sempre um tempo antes do tempo, não é? Como a fome, sempre anterior a si própria."
Glossário:
soba - o rei africano
kuata-kuata - pega-pega (guerras para captura de escravos)
mujimbo - notícia, boato
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