segunda-feira, 25 de junho de 2012

TERRA EM TRANSE

Terra em transe


Sobre escarpas sem fim
onde o horizonte se confunde com o tédio
dos olhos que divisam um mundo roto
trovoadas rangem dentro de mim
feito o som de dobradiças enferrujadas.


São as catedrais de dúvidas
que se agigantam
e persistem
no duro engenho das (in)compreensões.

Vozes agudas ferroam
com a mesma intensidade
dos cascalhos que segregam os pés
num quintal purulento:
consciência efervescente
no vácuo das torres de marfim
que nos habitam.

Cataguazes Buenos Aires Teerã
Berlim Pirapetinga Lisboa
Paris Brasília Adrogué
Alentejo Morrinhos
Persépolis Itabira
São Paulo
geografias do ocaso
no arremate dos acasos
onde pululam pássaros aziagos

e homens ensimesmados
habitam cidades sem memória,
cemitério dos vivos.

Museu de passivos
expondo corpos extenuados
pela viagem ao território devastado
com suas reminiscências de luto
miséria
medo.

Sussurra bem longe a chuva
e suas águas
as mesmas que invadiram
os porões da infância
são agora rio imóvel
que não lava
os resíduos das mortes antigas
mas se renova na
insaciável fome dos obituários.

CAGIANO, Ronaldo. O sol nas feridas. São Paulo: Dobra Editorial, 2011. Págs. 10 e 11.  

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