quinta-feira, 12 de julho de 2012

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (17)

O SISTEMA SEMIÓTICO LITERÁRIO

Linguagem literária vs. linguagem não-literária

Págs. 43 e 44 - "Desde há muitos séculos que se tem procurado, com variável consciência teórica dos problemas em análise e com a utilização de heterogénea utensilagem conceptual, fundamentar a distinção entre literatura e não-literatura, entre textos literários e não-literários, através da delimitação e da caracterização de uma linguagem literária contraposta à linguagem não-literária (ou, noutra perspectiva, às linguagens não-literárias).

De acordo com uma teoria pitagórica tardia, existem duas modalidades de expressão: uma, a mais corrente, apresenta-se 'nua' , desprovida de figuras e de quaisquer recursos técnico-estilísticos; a outra, pelo contrário, caracteriza-se
pelo ornato, pelo vocabulário escolhido e pelo sábio uso dos tropos. A primeira corresponde a uma linguagem não-artística, não lietrária; a segunda, em contrapoartida, a uma linguagem artística, literária.


Esta ideia pitagórica de que a linguagem literária se distancia da linguagem usual - e, portanto, se especifica - graças aos ornatos e ao carácter inusitado dos seus vocábulos, dos seus epítetos, dos seus tropos, etc., adquiriu relevância fundamental em Aristóteles, o qual, segundo o testemunho de Isócrates, considerava o processo de estranhamento como conatural ao discurso poético. Na Poética, Aristóteles preceitua que a elocução, sem deixar de ser clara, não deve ser pedestre, devendo antes ser nobre e afastada do uso vulgar. Este desvio do uso vulgar, que não deve ser cultivado até ao extremo do 'enigma' e do 'barbarismo', é conseguido mediante o uso de vocábulos raros, de metáforas e de 'tudo o que se afasta do usual'.

A concepção, tantas vezes retomada na teoria e na crítica literárias contemporâneas, da linguagem literária como desvio em relação à linguagem usual, à linguagem de intercâmbio quotidiano, encontra-se portanto já formulada, ao menos sob forma seminal, na Poética de Aristóteles e está também presente na Epístola aos Pisões de Horácio, embora este autor valorize inequivocamente a res em relação às uerba: Scribendi recte sapere est et principium et fons./ Rem tibi Socraticae poterunt ostendere chartae,/ uerbaque prouisam rem non inuita sequentur. "

(Ser sabedor é o princípio e a fonte do bem escrever. Os escritos socráticos já te deram ideias e agora as palavras seguirão, sem esforço, o assunto imaginado).

(CONTINUA)



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