quarta-feira, 8 de agosto de 2012

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (21)

Universidade de Moscou
O que é a poesia? Não adianta falar dos sentimentos humanos, de transcendência e sensibilidade ou momento mágico. Nada disso explica a poesia em sua internalidade. Voltemos, então, ao Vítor Manoel citando Jakobson (com o qual o autor mais tarde estabelecerá divergências, mas que em muitos sentidos toma como base de suas reflexões).
Op. cit. Págs. 48 e 49 - "Num estudo publicado em 1921, sob o título de 'A nova poesia russa', Jakobson escreve que 'a poesia é a linguagem na sua função estética', (grifo nosso)
aparecendo como marca distintiva desta função 'o valor autônomo' concedido à palavra. Num outro estudo mais tardio, intitulado 'O que é a poesia?', Jakobson, ao dilucidar o conceito de poeticidade, refere-se a uma 'função estética', a uma 'função poética' da linguagem, que se manifesta no facto de 'as palavras e a sua sintaxe, a usa significação, a sua forma externa e interna não serem indícios indiferentes da realidade, mas possuírem o seu próprio peso e o seu valor próprio.'  Numa série de conferências inéditas sobre o formalismo russo, proferidas em 1935 na Universidade de Brno, de novo Jakobson analisa a natureza da poesia com fundamento na 'função estética' da linguagem, apresentando esta como a dominante, isto é, como o elemento focal, especificante, da obra poética e da linguagem poética em geral e caracterizando esta linguagem pelo facto de estar 'orientada precisamente para o sinal enquanto tal'. A função estética não anula (grifo nosso) a existência,na obra poética, de outras funções linguísticas - Jakobson menciona mais duas, a função referencial e a função expressiva -, mas subordinando-as hierarquicamente (grifo nosso), de modo que elas se encontram, na estrutura poética, não apenas submetidas à função dominante, mas também transformadas por esta. Por outro lado, a função estética pode ocorrer em textos não-poéticos, mas com carácter adjuvante ou subsidiário, isto é, sem o estatuto de dominante (grifo nosso)."

Conclusão: A ocorrência de "belos sentimentos" na poesia não só é possível, como até desejável, mas não são eles, os belos sentimentos, que concorrem para sua poeticidade. A madre Teresa, é consenso, era imbuída de belos sentimentos, mas não nos parece que seja poesia.

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