quarta-feira, 10 de outubro de 2012

MACUNAÍMA (5)

A leitura que estamos fazendo de Macunaíma é do texto da obra abaixo:
ANDRADE, Mário de. Macunaíma. s/ed., São Paulo, Círculo do Livro, s/ data.
 
Na última postagem, a mãe de Macunaíma, para castigá-lo carrega o herói para o meio do mato e lá o deixa para que se perca.
 
Pág. 20 - "E desapareceu. Macunaíma asuntou o deserto e sentiu que ia chorar. Mas não tinha ninguém por ali, não chorou não. Criou coragem e botou o pé na estrada, tremelicando com as perninhas de arco. Vagamundou de déu em déu semana, até que topou com o Currupira moqueando carne, acompanhado do cachorro dele Papamel. E o Currupira vive no grelo do tucunzeiro e pede fumo pra gente. Macunaíma falou:
- Meu avô, dá caça pra mim comer?
- Sim, Currupira fez.
Cortou carne da perna moqueou e deu pro menino perguntando:
- O que você está fazendo na capoeira, rapaiz!
- Passeando.
- Não diga!
- Pois é, passeando...
Então contou o castigo da mãe por causa dele ter sido malévolo pros manos. (...)"
 
Nesse pequeno trecho já se podem encontrar coloquialismos regionais e lendas sobretudo amazônicas utilizados por Mário de Andrade. "Assuntou", "não chorou não", "botou o pé na estrada", "déu em déu", "topou", "moqueando", "pra mim comer", "Currupira fez", "rapaiz"  - "déu em déu semana" - abolição da lógica temporal; "...o Currupira vive no grelo do tucunzeiro e pede fumo pra gente"; "cortou carne da perna...".

"O Currupira olhou pra ele e resmungou:
- Tu não é mais curumi, rapaiz tu não é mais curumi não... Gente grande que faiz isso...
Macunaíma agradeceu e pediu pro Currupira ensinar o caminho pro mocamgo dos Tapanhumas. O Currupira estava querendo mas era comer o herói, ensinou falso:
- Tu vai por aqui, menino-home, vai por aqui, passa pela frente daquele pau, quebra a mão esquerda, vira e volta por debaixo dos meus uaiariquinizês.
Macunaíma foi fazer a volta porém chegado na frente do pau, coçou a perninha e murmurou:
(pág. 21) - Ai! que preguiça!...
e seguiu direito."

O Currupira começa a perseguição ao herói gritando:

"- Carne de minha perna! carne de minha perna!
Lá de dentro da barriga do herói a carne respondeu:
- Que foi?"

A perseguição continua.

"O piá estava desesperado. Era dia do casamento da raposa e a velha Vei, a Sol, relampeava nas gotinhas de chuva debulhando luz feito milho. Macunaíma chegou perto duma poça, bebeu água de lama e vomitou a carne."
(...)
"Macunaíma ganhou os bredos por outro lado e escapou.
Légua e meia adiante por detrás dum formigueiro escutou uma voz cantando assim:
'Acuti pitá canhém...' lentamente.
Foi lá e topou com a cotia farinhando mandioca num tipiti de jacitara.
- Minha avó, dá aipim pra mim comer?
- Sim, cotia fez. Deu aipim pro menino, perguntando:
- Que que você está fazendo na caatinga, meu neto?"

Cabem novas observações: "Tu não é mais curumi" - o pronome em segunda pessoa com o verbo na terceira é característica do falar do Rio Grande do Sul, qao passo que "curumi", para designar menino, criança, é de origem indígena e comum no norte do país; "faiz" é um barbarismo bastante comum em todo o território nacional; "pro", coloquialismo nacional; "home", idem;  "quebra a mão esquerda", forma coloquial urbana; "piá", regionalismo gaúcho para designar menino; "casamento da raposa", lendas do Brasil para indicar a chuva; "Vei, a Sol", visão indígena; "Légua e meia", expressão que  indica uma distância indeterminada;   "aipim", no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, a mandioca não venenosa, comestível; "Que que", coloquialismo nacional; "caatinga", paisagem característica do Nordeste do Brasil.

(CONTINUA)
 

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