terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

VEIA BAILARINA (3)

Domingo que vem, 24/02, será nosso encontro para comentar a leitura de Veia Bailarina, este belo depoimento do Ignácio de Loyola Brandão.

Depois de descobrir que realmente é portador de um aneurisma cerebral, inicia-se o período torturante e de hesitação entre a esperança de que não seja necessária uma cirurgia e o desengano dos médicos consultados. Mas a vida continua. Transcrevemos abaixo, alguns trechos exemplares:

Pág. 78 - "Nem parece que vivo numa cidade povoada por aneurismas mortais. De repente, com o revólver na mão, estoura à sua frente, na entrada de casa, no cruzamento das ruas, na saída do caixa eletrônico, sentado num bar. Tendo sorte, entrega-se a carteira, cartões magnéticos, cheques, relógios e pode ser que se saia ileso."

Pág. 88 - "Qual é o ponto de vista deles (vagabundos das ruas) quando nos olham? Invejam, odeiam, desprezam? Querem ser como nós? Imaginam que somos felizes porque temos carros, comemos todos os dias, temos um teto, trabalho? Nada sabemos deles, são apenas notícias de jornal, alguns segundos na televisão, não procuramos nos informar, já nem nos emocionamos ao ver as crianças de olhos esbugalhados, pedindo esmolas nos cruzamentos, não queremos que se aproximem.
Um deles, ao me ver, pode supor que a minha casa foi financiada, que estarei pagando por anos e anos, vou passar dos setenta pagando prestações?"

O Ignácio viajou pela Europa com o Caio Fernando Abreu e confessa que ficou impressionado com a serenidade de alguém cuja morte já estava anunciada. Do Caio, transcreve um trecho, e fazemos o mesmo:

Pág. 99 - "O difícil é acostumar com a ideia de que o meu fim pode estar muito próximo. Mas a intensidade que a vida ganha, o significado dos gestos, isto só pode perceber e definir quem vive como eu. Não dá para transmitir o que representa olhar para esse lago, ver as pessoas passeando, enxergar o vento, sentar e escrever, pensando que podem ser as últimas frases."

A cirurgia, finalmente, passa a ser uma certeza.

Pág. 110 - "Existem coincidências. Ou cada fato tem na vida um significado que precisamos decodificar? Alguns conseguem e vão por caminhos diferentes, outros prosseguem inalterados, não tocados. O que significava ter recebido um aviso? Por que tantas pessoas carregam aneurismas e não são alertadas como eu fui? Uma tontura inconsequente me fez atravessar uma fronteira inesperada. Como agir? Coisa para se pensar depois, agora era buscar coragem para enfrentar a operação, o hospital, bisturis, brocas furando a cabeça."

E para terminar a postagem desta semana:

Pág. 131 - "O TERROR COMEÇA QUANDO SE ASSUME: POSSO MORRER. O ANEURISMA É UMA GRANADA DENTRO DE MINHA CABEÇA. PODE EXPLODIR A QUALQUER MOMENTO. ANTES DA ESQUINA. ANTES QUE EU TERMINE ESTA PALAVRA. NO BANHEIRO, DE CALÇAS ABAIXADAS."

(continua)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças