terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

VEIA BAILARINA (3)

No último domingo, 24/02/13, o grupo de leitura Dom Quixote reuniu-se para discutir o livro do mês: Veia Bailarina, do Ignácio de Loyola Brandão.

Não vai aqui um relatório exaustivo do que se constatou com a leitura, mas a opinião deste que vou escreve sobre pontos que lhe chamaram a atenção.

Não que fosse mero pretexto, a cirurgia, mas o autor vale-se da oportunidade para fazer um amplo balanço da vida brasileira, sobretudo da vida cultural do Brasil na época em que passou pelo terrível drama de descobrir-se aneurismático. A proximidade da morte, dizem, provoca tais balanços de maneira vertiginosa. Portanto, há uma articulação necessária e verossímil entre o tema principal e as digressões do autor.

A discussão e as reflexões a respeito de vida e morte é outro ponto alto do livro.

Pág. 201 - "Voltei à revista, trabalhava duas, três horas. Andar pelas mesmas ruas, liberto da ameaça do aneurisma, me dava a sensação de flutuar. Não via nada feio. Não que as coisas tivessem ficado bonitas. O que me encantava era estar ali, poder olhar. Caminhava com cautela, atravessava as ruas sem segurança, com medo de calcular mal a velocidade dos carros. Morrer atropelado seria ridículo, seria ofender a equipe que tinha feito tudo para me salvar, seria desperdiçar os esforços, pensamentos, orações, vibrações de tanta gente amiga. Do viaduto da Avenida Doutor Arnaldo, aos domingos, contemplava os jovens atirando-se no espaço, seguros por cordas elásticas. Quando parecia que iam estourar os cornos no asfalto lá embaixo, a corda puxava para cima. Ioiôs humanos. 'Medo e adrenalina", exclamavam. Mas não havia medo de morrer. Não sei por que, a gente acredita mesmo na imortalidade e desafia, arrisca. Porque cada vez que chegamos vivos ao fim do dia é uma vitória."

Passagem que emociona: no final do livro, o autor dedica-se a homenagear sua mulher.

Pág. 211 - "Muitas vezes, nesta minha vida, olho para meu lado e penso: tenho sorte. Não me refiro agora à descoberta do aneurisma. Estou pensando em Márcia, minha mulher."
Pág. 213 - "... admirável foi a forma como enfrentou os dias, antes e depois da minha cirurgia. Centrado em mim, não percebi a angústia em que ela se encontrava. A pessoa que está de fora tem de se manter firme, sofre mais. Quando eu, no auge da tensão, olhava, recebia de volta o sorriso e a força. O mesmo sorriso que encontro todas as manhãs, ao acordar e que me deixa pronto para o dia."

Pág. 214 - " E se me recuperei tão rápido, se readquiri o gosto pela vida, foi porque emanava dela uma força muito grande, enorme, que me arrancou da acomodação e me fez reerguer."

FIM

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