Expressão de uma profunda e perspicaz visão do fato literário, este livro de Ernesto Sabato tem momentos antológicos sobre o entendimento da estética da literatura.
Esta é a 1ª reimpressão, pela Companhia das Letras, em 2003, de O escritor e seus fantasmas.
O fragmento que transcrevemos está nas páginas 183/4.
"Depois, a valorização excessiva da língua, até chegar, em seus casos mais dementes, a eliminar qualquer função referencial, sobrando apenas uma espécie de autocontemplação do discurso. Correndo-se o risco de cortar todo vínculo com a vida. Não estou sustentando, nem por um instante, a tolice de dar primazia ao 'fundo' sobre a 'forma'. Ao contrário, acho que em toda a grande arte não se podem separar esses dois termos, posto que o fundo se dá inevitavelmente formado, e a forma é inevitavelmente conteúdo. Se o fundo fosse decisivo, não se poderia compreender como Shakespeare construía um grande drama com um 'argumento' trivial de seu tempo. É justamente esse princípio que me faz pôr em quarentena uma literatura que dê primazia à forma. Do mesmo modo, embora por razão inversa, me ponho em guarda contra as famosas 'literaturas de conteúdo', como no caso do realismo socialista e outros lixos edificantes."
(CONTINUA)
Esta é a 1ª reimpressão, pela Companhia das Letras, em 2003, de O escritor e seus fantasmas.
O fragmento que transcrevemos está nas páginas 183/4.
"Depois, a valorização excessiva da língua, até chegar, em seus casos mais dementes, a eliminar qualquer função referencial, sobrando apenas uma espécie de autocontemplação do discurso. Correndo-se o risco de cortar todo vínculo com a vida. Não estou sustentando, nem por um instante, a tolice de dar primazia ao 'fundo' sobre a 'forma'. Ao contrário, acho que em toda a grande arte não se podem separar esses dois termos, posto que o fundo se dá inevitavelmente formado, e a forma é inevitavelmente conteúdo. Se o fundo fosse decisivo, não se poderia compreender como Shakespeare construía um grande drama com um 'argumento' trivial de seu tempo. É justamente esse princípio que me faz pôr em quarentena uma literatura que dê primazia à forma. Do mesmo modo, embora por razão inversa, me ponho em guarda contra as famosas 'literaturas de conteúdo', como no caso do realismo socialista e outros lixos edificantes."
(CONTINUA)
Ernesto Sábato... Um gênio. Recomendo a todos o excelente: Diálogos Borges/Sábato.
ResponderExcluirBela recomendação, José.
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