quarta-feira, 20 de março de 2013

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (46)

Vítor Manuel de Aguiar e Silva
E chegamos ao último dos códigos assinalados pelo Professor Vítor Manuel.

Págs. 105/6/7 - "e) Código semântico-pragmático. - Em princípio, nenhuma substância do conteúdo é específica do sistema e do texto literários (noutra perspectiva, pode-se afirmar que nenhuma substância do conteúdo é alheia ao sistema e ao texto literários). Mas a substância do conteúdo, quer no âmbito paradigmático, quer no âmbito sintagmático, é sujeita a específicos processos de semiotização que lhe conferem uma forma particular.
No plano paradigmático, o código semântico-pragmático regula a produção das unidades e dos conjuntos semioliterários, resultantes da interação de factores lógico-semânticos, histórico-sociais e estético-literários, que manifestam ou o universo semiótico cosmológico ou o universo semiótico antropológico ou o universo semiótico social ou um universo semiótico configurado pelas inter-relações dos três universos antes referidos.
As unidades e os conjuntos semioliterários constituem macro-signos do sistema literário e, tal como acontece com as microestruturas e as macroestruturas textuais, são condicionados e determinados em grande medida pela existência de um corpus literário, pela dinâmica da tradição e da inovação no interior do sistema literário - e, de modo especial, pelo peculiar processo de semiotização que é a intertextualidade - e por factores semióticos exógenos ao sistema literário. Com efeito, o código semântico-pragmático, pela mediação indispensável do código semântico do sistema linguístico, entra em correlação com os códigos religiosos, míticos, éticos e ideológicos actuantes num determinado espaço geográfico e social e num determinado tempo histórico e por isso os macro-signos literários regulados por aquele código manifestam de modo primordial e privilegiado a 'visão do mundo', o 'modelo do mundo' consubstanciados no texto literário. No policódigo literário, o código semântico-pragmático desempenha uma função dominante, porque a estrutura profunda do texto é de natureza semântica e só a partir desta estrutura, considerada como 'programa', se pode analisar e compreender adequadamente a estrutura superficial do texto e as regras e convenções fónicas, prosódicas, grafemáticas, métricas, estilísticas, técnico-compositivas e semântico-pragmáticas que a organizam.
Sobre a classificação e a caracterização dos macro-signos semioliterários, é grande o desacordo teórico e terminológico dos especialistas. Fundamentando-nos, em parte, em estudos de D'Arco
Silvio Avalle, distinguiremos as seguintes espécies de macro-signos semioliterários: o personagem, o motivo, a imagem, o tema e o topos. Caracterizaremos cada um destes macro-signos semioliterários no capítulo 9, quando analisaremos as estruturas sémicas do texto literário.
Por último, um esclarecimento sobre a designação de 'código semântico-pragmático'. Ao adoptarmos esta designação, reconhecemos implicitamente que não é possível estabelecer uma rígica linha divisória entre os factores semânticos e os factores pragmáticos, tanto no plano paradigmático como no plano sintagmático."

(CONTINUA)

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