O poema abaixo é de meu amigo Matheus Arcaro.
Não percebi a puberdade incrustada em cada amanhecer.
Por isso não faço poesia.
dos hiatos
que impulsionam a criação.
É tarde. Tardíssimo!
A criança que me habitava
Esvaiu-se no labirinto da certeza
sem descobrir como cobrir o verbo de cor.
numa página pálida.
Não aprendi a roubar do outono uma tarde virginal.
Não encontrei a organicidade da pétala no sorriso
da mucama.Não percebi a puberdade incrustada em cada amanhecer.
Por isso não faço poesia.
Procuro por causas e efeitos
e deslembro dos defeitos,dos hiatos
que impulsionam a criação.
Sou filho da definição,
súdito do porquê,
dependente
sintomático do juízo.
- Doutor, e o tratamento?
- Doutor, e o tratamento?
Não há desintoxicação.
Não há antídoto.
Não há haverá.Não há antídoto.
A criança que me habitava
Esvaiu-se no labirinto da certeza
sem descobrir como cobrir o verbo de cor.
Não sei fazer poesia
porque cadaverizo os
sentimentosnuma página pálida.
Que bonito. Um ótimo começo e um final melhor ainda.
ResponderExcluirpois é Matheus,
ResponderExcluiro teu poema me faz relembrar de novo:
--> --> --> de passagens --> --> --> ---> ----> .......
fora a impressão não rara de que há dobras na linha do tempo
deparo-me continuamente com a irrecuparabilidade, da unicidade do que passou,
às vezes com uma pitada de tristeza, outras vezes com tranquilidade (com gratidão até)
pelo que sobreviveu
é cedo demais para pelavras finais, definitivas de tão relativas
abraço carinhoso, Caren
Excelente poema. De certa forma, trata de uma natureza pessoal antilírica. Isso se expressa significativamente nos versos "A criança que me habitava / esvaiu-se no labirinto da certeza / sem descobrir como cobrir o verbo de cor." Mas a versificação, estruturada em estrofações breves e em versos entregues mais ao ritmo psicológico (com um certo acento pessoano) do que verbalmente musical, revela que o poeta pode, sim, ser mais uma das sete faces de Matheus Arcaro, grande contista - "contista" por enquanto... Começo bem a semana com esta leitura: literatura de primeira.
ResponderExcluirMuito delicado o modo de combinar esses campos semânticos. A ironia metalinguística e o desejo de se desviar de certos tipos poéticos revelam uma busca de voz pessoal... bem bonito, parabéns! =)
ResponderExcluirNatasha