Muitas vezes perguntar é mais difícil do que responder.
Mesmo assim, o mundo está coberto de perguntadores de tipos os mais variados.
Alguns bons, com perguntas inteligentes, claras; outros, contudo, bem… melhor
contar a história.
Em um Salão de Idéias, repete-se uma cena bem frequente nas
entrevistas a que tenho assistido. Quando o mediador é um jornalista
inexperiente e ainda está entusiasmado com seu ofício, atropela o entrevistado
sem dó nenhum. Aliás, situação bem comum nos melhores e mais sérios canais de
televisão. Conheço entrevistadores de largo curso que continuam trabalhando com
o mesmo frescor juvenil de quem começa, isto é, usam o entrevistado como
pretexto para exibirem seu vasto repertório de conhecimentos. Vocês provavelmente
também conheçam alguns, tenho certeza.
Numa das últimas Bienais do Livro de São José do Rio Preto, estávamos falando de literatura, uma das poucas praias que frequento sem grandes medos, quando uma senhorita de ar inteligente, usando óculos como prova de que lê muito acima da média, provavelmente mestranda em alguma coisa que não consegui descobrir o que fosse, levantou o braço pedindo o microfone e lascou:
“Nos últimos tempos venho estudando as transformações
comportamentais de algumas faixas etárias em relação ao meio ambiente. Em meus
estudos, parti da premissa de que toda mudança encontra resistência por parte
daqueles que teoricamente deveriam ser os transformados, isto é, justamente os
mais interessados na questão. Consegui isolar alguns casos atípicos e os
comparei ao que ocorre com as plantas em situações adversas. Empregando a
ciência estatística e, com base em observações já realizadas na Inglaterra,
cheguei à conclusão de que a resistência a qualquer tipo de mudança é natural,
diria mesmo, uma necessidade do ser em questão. É o instinto da sobrevivência
que motiva tal comportamento, uma vez que toda mudança pode esconder algum tipo
de ameaça. Ainda não tive oportunidade de ler nenhum livro seu, mas me parece
que o senhor tem alguma opinião sobre o assunto. O senhor concorda com meu
raciocínio?”
– Concordo – respondi, e em constrangido silêncio esperei
até que alguém se animasse a fazer novamente alguma pergunta sobre literatura.
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