segunda-feira, 8 de abril de 2013

TEXTOS DE AMIGOS

O poema abaixo, inédito, é de autoria do meu amigo Matheus Arcaro.

Mais uma tarde

O sol açoitava o dia.
E nessa cidade ensandecida
(pela necessidade tecida às avessas)
a brisa tentava rasgar o véu de brasa
e a terra tentava cuspir o ser vil
que se viu como senhor da Terra.
e a vida tentava tentar.

Sobrava suor e sede.

Os bichos insaciáveis,
sob o sol e os ternos
(eternos adversários)
Faziam do seu íntimo
um ato último.
Os últimos homens!
E sacudiam os braços
e buzinavam
sem saberem-se autofágicos.


Já grisalho,
o dia inventou o vento
que resvalou em alguns galhos
mas logo vestiu o capuz:
intimidou-se com o asfalto,
a falta de brandura,
com a gritaria,
com as gravatas engomadas.


A noite, solidária,
abriu sua malha negra
E os animais não mais
viram os umbigos
(próprios e alheios)
E assim foi-se o dia: sem presente.

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