Nunca mais li comentários a respeito das crônicas que
escrevo. Minha saúde melhorou muito desde então. Por Menalton Braff
Quando publiquei aqui, na CartaCapital, as primeiras
crônicas, tive a curiosidade de voltar à cena do crime (metáfora) para ver o
que as pessoas comentavam. Eu recebia pedradas (metáfora) e respondia com
pedradas. Mas cansei e não voltei mais para ver o que andavam dizendo de mim.
Minha decisão de não ler mais os comentários, que me relevem
os leitores inteligentes, foi depois de ler comentários estapafúrdios de
pessoas que não tinham o menor conhecimento do assunto e se punham a criticar o
que estava escrito. Isso foi decisivo na minha decisão. Apenas como exemplo: o
assunto era literatura, assunto que lecionei durante cerca de trinta anos e
estudei alguns anos antes de lecionar. Claro que isso não significa quase nada,
mas suponho ter a obrigação de saber disso um pouco mais do que uma pessoa que
nunca abriu um livro na vida. Pois olhe, muitos dos comentários eram de pessoas
que, pela qualidade de sua escrita, não tinham um só livro em casa, nem para
enfeitar a estante da sala.
Nunca mais li comentários a respeito das crônicas que escrevo. E garanto a vocês, minha saúde melhorou muito desde então. Além disso, me deu vontade de escrever esta crônica metalinguística.
Então, agora é assim, eu escrevo, a CartaCapital publica,
alguns leitores discordantes me jogam pedra, mas não me acertam, porque estou
muito longe e protegido contra agressões.
Aprendi, nesses meses em que cronifico por aqui, que o
Nelson Rodrigues tinha razão: a unanimidade é burra. Ora, e em sendo assim, não
posso esperar que todos estejam de acordo com minhas opiniões. Não me julgo um
ser divino, tampouco um escrivinhador genial. Pelo contrário, me considero uma
pessoa das mais comuns que andam por aí. Em resumo: não sou dono da verdade.
Discordâncias sempre haverá. Mas não eram as discordâncias que me atenazavam.
Com essas sempre contei, que não sou tão bobo assim. O que me afastou dos
comentários de leitores foram as agressões grosseiras, sem nenhuma elegância,
com que procuravam me atingir.
Me desculpem os dois parênteses do primeiro parágrafo. É
que, no período em que lia comentários, acabei descobrindo que uma boa parte
dos leitores só conhece a leitura referencial, denotativa. E esses poderiam me
considerar um criminoso de alta periculosidade, procurado pela Polícia Federal,
pela Interpol, perseguido pelo mundo todo. A não ser que se queira considerar o
humor de uma crônica um crime contra os bons costumes, me considero um cidadão
a salvo da justiça. E as pedradas, sim, as pedradas são em sentido figurado.
Meu corpo, esta materialidade que me leva para onde preciso ir, jamais sofreu
dano algum de leitores enraivecidos.
Tenho a consciência de estar escrevendo para a minoria, mas
essa também me merece alguma atenção.
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