terça-feira, 14 de maio de 2013

LEITURA DO MÊS

E continuamos com a leitura do mês de maio: Sinfonia pastoral, de André Gide.

A dedicação de Jaques, o pastor, na educação de Gertrudes é excepcional, a ponto de sua esposa reclamar que nem para com os próprios filhos tivera um zelo tal.
Ele alega, é evidente, que maior alegria é recuperar o que estava perdido, mais ou menos parodiando a parábola do filho pródigo. Usa o argumento da autoridade: a bíblia.
A primeira descoberta do pastor, e que muito o alegrou, foi que Gertrudes não era surda. Depois de muitas tentativas sensoriais, um dia ele anota:

Pág. 39 - "5 de março. Anotei esta data como a de um nascimento. Era menos um sorriso do que uma transfiguração. Repentinamente, seus traços animaram-se! Foi como um resplendor súbito, semelhante ao clarão purpurino em os altos Alpes, que, precedendo a aurora, faz vibrar o cume nervoso que ele nos mostra e sai da noite."


Inicia-se, então, um longo e paciente trabalho fonético: o entendimento e a reprodução dos sons da fala. O contato físico com objetos, a pronúncia dos sons que lhes corresponde e outros recursos com que aos poucos vai introduzindo Gertrudes no mundo da fala.

Pág. 44 - "28 de fevereiro - Volto atrás, pois ontem me deixei arrebatar.
Para ensinar a Gertrudes precisei aprender eu mesmo o alfabeto dos cegos; mas logo ela se tornou muito mais hábil do que eu em ler esta escrita, na qual eu tinha bastante dificuldade em ficar senhor de mim e que ademais eu seguia antes com os olhos do que com as mãos."

Pág. 45 - "Creio inútil notificar aqui todos os primeiros degraus dessa instrução, que sem dúvida se repetem na de todos os cegos. Penso que, para cada um deles, a questão das cores mergulhou cada mestre no mesmo embaraço. (Sobre este assunto fui induzido a notar que no Evangelho não se versa em nenhuma parte a questão das cores.)"

Jaques vai inventando técnicas que os aproximem das cores. Começa com o som de instrumentos musicais tentando uma associação entre audição e visão

No registro do dia 08 de março, acontece o imprevisto. O filho mais velho de Jaques confessa ao pai que está apaixonado por Gertrudes e com ela pretende casar. O pai fica perturbado.

Pág. 64 - "- Há uma coisa que te quero pedir ainda - acrescentei, levantando-me do banco em que estávamos sentados: - tinhas a intenção, dizias, de partir depois de amanhã; peço-te não adiares a partida . Deverias permanecer ausente todo o mês; peço-te não encurtares de um dia sequer essa viagem. Compreendes?
- Bem, meu pai, obedecer-lhe-ei.
Pareceu-me que se tornava extremamente pálido, a ponto de seus lábios mesmos ficarem descorados."

Jaques fará de tudo para afastar de Gertrudes seu filho, proibindo-lhe, por fim, os encontros com a cega.

(CONTINUA)

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