terça-feira, 23 de julho de 2013

LEITURA DO MÊS

Prosseguimos a partir do segundo capítulo.
São apresentadas as principais relações sociais de Policarpo, ou seja, do Major Policarpo Quaresma, como era chamado, funcionário público.

Ricardo Coração dos Outros, violeiro e compositor de modinhas, mas principalmente os militares. Almirantes, generais e outras patentes.

"O general nada tinha de marcial, nem mesmo o uniforme que talvez não possuísse. Durante toda a sua carreira militar, não viu uma única batalha, não tivera um comando, nada fizera que tivesse relação com a sua profissão e o seu curso de artilheiro."
Além das figuras irônicas, o narrador também tece críticas ao espírito brasileiro.
"Os dois saíram tristes. Quaresma vinha desanimado. Como é que o povo não guardava as tradições de trinta anos passados? Com que rapidez morriam assim na sua lembrança os seus folgares e as suas canções? era bem um sinal de fraqueza, uma demonstração de inferioridade diante daqueles povos tenazes que os guardam durante séculos! Tornava-se preciso reagir, desenvolver o culto das tradições, mantê-las sempre vivazes nas memórias e nos costumes..."
No terceiro capítulo, o narrador nos apresenta Ismênia, filha do general Albernaz e noiva de Cavalcanti, estudante de odontologia que vivia quase tão-somente às custas do general. Para Ismênia, o mundo todo era resumido num ato: casamento.
Os subúrbios foram sempre o espaço preferido de Lima Barreto. Eis, do terceiro capítulo, uma descrição de tal ambiente.
"Todos se calaram e olharam a noite que chegava. Da janela da sala onde estavam, não se via nem um monte. O horizonte estava circunscrito aos fundos dos quintais das casas vizinhas com as suas cordas de roupa a lavar, suas chaminés e o piar dos pintos. Um tamarineiro sem folhas lembrava tristemente o ar livre, as grandes vistas sem fim. O sol já tinha desaparecido do horizonte e as tênues luzes dos bicos  de gás e dos lampiões familiares começavam a acender-se por detrás das vidraças."
O capítulo IV trata de um requerimento do major, que não aceitando nada que não fosse genuinamente nacional, apresentou o projeto de, por lei, instituir o tupi-guarani como língua nacional.
O assunto rendeu-lhe tais dissabores que acabou num manicômio por loucura.
O quinto capítulo encerra a primeira parte.
Chegados do hospício onde foram visitar Quaresma, Olga, a afilhada, e seu pai, Vicente Coleoni, italiano a quem Quaresma tinha ajudado na juventude, vão encontrar Adelaide, a velha irmã de Quaresma, conversando com Ricardo. Comentam o fato de que Cavalcanti fugiu, deixando Ismênia sem gosto pela vida. Nisto a própria entra e a conversa se encerra.

Bela passagem simbólica, neste capítulo, é seu último parágrafo:
"Ricardo moveu-se na cadeira. Batendo com o braço num dunquerque, veio atirar ao chão uma figurinha de biscuit, que se esfacelou em inúmeros fragmentos, quase sem vida."
E aquilo que para o leitor menos atento parece uma cena banal, na verdade é uma síntese simbólica da vida de Ismênia.
(CONTINUA)


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