quinta-feira, 28 de novembro de 2013

QUESTÕES DE ESTÉTIC A DA LITERATURA (79)

John Lipski
Pág. 162 - "Como descrever e explicar os desvios verificáveis na língua literária? Três soluções diferentes, com fundamentação e consequências diversas, têm sido propostas. Analisemos cada uma delas.
Em primeiro lugar, a partir da gramática gerativa da língua standard pode-se fazer o levantamento e fornecer a apropriada descrição dos desvios ocorrentes num determinado texto, enumerando e caracterizando as regras que tenham sido violadas. Tal procedimento analítico depende de um método essencialmente taxionomista e descritivista, destituído de capacidade gerativa em relação a frases com específicos desvios literários.

Em segundo lugar, pode-se postular a necessidade de construir uma gramática independente, separada da gramática da língua standard com justificação de que o escritor cria uma nova língua ou, mais restritivamente, um peculiar dialecto. Esta solução tem sido advogada com muito empenho por J. P. Thorne: 'Given a text, like Cummings' poem, containing sequences which resist inclusion in a grammar of English it might prove more illuminating to regard it as a sample of a different language, or a different dialect, from Standard English. The syntactical preoccupations of  stylistics are to (p.163) be satified, not by adjusting a grammar of Standard English so as to enable it to generate all the actual sentences of the poem, but by finding the grammar which most adequately describes the structure of this other language'. Quer dizer, perante textos poéticos de Donne, de Cummings ou de Roethke, o investigador tem de elaborar a gramática do donnês, do cummingsês ou do roethkês, isto é, daquelas novas línguas que possibilitam tanto 'dizer coisas' que também podem ser ditas no inglês standard, mas de modo diferente, como 'dizer coisas' que não são possíveis no inglês standard, embora só possam ser entendidas por falantes que dominem o inglês normal.
Esta solução levanta poderosas dificuldades teóricas e metodológicas e provoca consequências que afectam os próprios fundamentos da gramática assim construída. Por um lado, obvia aos inconvenientes suscitados pela ideia, logicamente incôngrua, de uma 'gramática de desvios', de uma gramática dotada da capacidade de gerar directamente frases anómalas, já que uma gramática, ex definitione, gera todas as frases bem formadas de uma dada língua e apenas estas, embora permita correlativamente identificar e caracterizar as frases deficientemente formadas dessa mesma língua. Todavia, não parece possível, no quadro teórico da linguística subjacente à 'língua' ou ao 'dialecto' de Donne, de Cummings, de Roethke, etc., e, por conseguinte, carecerá de lógica elaborar uma gramática de uma inexistente competência linguística. Esta gramática, a ser possível, provocaria forçosamente fenômenos de hipergeração, isto é, originaria um incontrolável  output (p. 164) de frases aberrantes. Como judiciosamente observa John Lipski, uma gramática capaz de gerar diretamente uma frase como he danced his did poderia gerar igualmente frases como he jumped his said, he washed his had., que não ocorrem nem no 'dialecto' de Cummings, nem no 'dialecto' de qualquer outro poeta. "

(CONTINUA)

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