quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

LITERATURA INFANTIL

O texto que segue é um dos capítulos do livro infantil inédito Melinda.
Uma amizade ameaçada

Cansou de chorar, encerrada sozinha naquele cubículo de cera escura, e de cansada adormeceu. Já era quase noite (e Melina, ali fechada não sabia disso) quando uma abelha de olhar agudo de tão inteligente abriu a porta e cutucou na cabeça da jovem que dormia.

‒ Vamos, acorde, que precisamos de conversar.

Melina tinha um sono pesado, mas naquela situação seus sentidos estavam todos muito ligados, mesmo enquanto dormia. Bateu as asas com vigor e chegou a subir uns centímetros do chão.

‒ Quem é a senhora? ‒ ela perguntou assustada.

‒ Aqui quem pergunta sou só eu. E você trate de responder direito, está entendendo?

Sem alternativa, Melina sacudiu a cabeça concordando.

A abelha de olhar agudo sentou-se e mandou Melina sentar em sua frente. Então fez uma pausa prolongada, olhando fixamente para o rosto da jovenzinha, parecendo querer intimidá-la. Por fim, começou o interrogatório.

‒ Vieram me contar que você está insatisfeita com a dança informativa. Isso é verdade?

‒ Bem, hoje de manhã...

‒ Não quero rodeios. Só me diga sim ou não.

‒ Sim.

‒ Além disso, você está pensando em inventar um novo tipo de dança.

‒ Olhe, a história não é bem...

‒ Sim ou não? ‒ gritou exaltada a abelha de olhar agudo.

‒ Sim.

‒ E que tipo de dança você está pensando em inventar?

‒ Não.

‒ Não o quê, menina.

‒ Não.

‒ Sim, mas não o quê? Vamos diga.

‒ Mas a senhora não me mandou dizer apenas sim ou não?

Surpresa, a abelha de olhar agudo ergueu as sobrancelhas e abriu ainda mais os dois olhos grandes, que ficaram maiores. Ela tossiu, usou as duas patas para limpar as antenas e quase sorriu.

‒ Bem, menina, agora você já pode responder qualquer coisa.

‒ E antes a senhora me permite fazer uma pergunta?

‒ Sim, pode fazer.

‒ E promete responder apenas sim ou não?

‒ Prometo.

A mais velha não percebeu o risinho escondido de Melina antes da pergunta.

‒ A senhora continua roubando geleia real para comer escondida?

‒ Ora, menina...

‒ Sim ou não?

As duas se puseram a rir porque a abelha mais velha não poderia responder apenas sim ou não.

‒ Sabe ‒ disse a de olhar agudo ‒ eu não posso declarar que você seja muito certa da cabeça, mas de errada, como vieram me dizer, é que você não tem nada.

‒ A senhora é uma psiquiatra?

‒ Com muito orgulho.

‒ E vai me deixar aqui presa neste lugar?

A psiquiatra passou as duas patas dianteiras na cabeça de Melina, fazendo-lhe um afago, piscou-lhe o olho direito e mandou-a embora.

‒ Vá, menina! Sonhar com alguma coisa que ainda não existe não é doença.

Melina não esperou uma segunda ordem. Ergueu-se do solo e saiu como doida procurando Apialina.

Na saída da cela onde estivera presa, passou por um grupo de quatro zangões, gordos, muito gordos, porque não faziam nada. Ao notar que eles riam dela, voltou na mesma velocidade com que saíra e disse muito brava:

‒ Vão procurar um servicinho, seus inúteis, em lugar de ficarem aí mexendo com quem está quieto.

Os zangões ficaram muito admirados com a reação daquela adolescente, mas não chegaram a responder, pois ela já ia longe.


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