quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (80)

Teun A. van Dijk
Recordando: na postagem 79, o autor Vítor Manuel de Aguiar e Silva discute duas soluções para descrever e explicar os desvios verificáveis na língua literária.
A primeira solução (não aceita pelo autor) é um levantamento com descrição de todos os casos de desvios em cada texto literário.
A segunda solução (também não aceita pelo autor) propõe uma gramática independente da gramática da língua standard.

Pág. 164 - "Uma terceira solução, enfim, mais complexa, mas mais consistente e mais satisfatória sob o ponto de vista explicativo de que as anteriores, é proposta por Teun A. van Dijk nos seus estudos sobre a elaboração de uma gramática do texto literário no quadro teórico da linguística gerativa do texto literário no quadro  teórico da linguística gerativa de base semântica. Numa determinada língua natural L, definida como um conjunto infinito de textos pertencenteas a essa língua, é possível diferenciar, a nível gramatical formal, entre um conjunto de textos não literários, que denotaremos por LN, e um conjunto de textos literários que denotaremos por LL. Quais as relações entre LN e LL e, a outro nível, quais as relações entre a gramática que descreve e explica LN - gramática que denotaremos por GN - e a gramática que descreve e explica LL - gramática que denotaremos por GL? Sob o ponto de vista ôntico-funcional , LL necessita da existência prévia de LN e por isso, correlatamente, a gramática dos textos literários (GL) pressupõe a existência da gramática textual normal (GN). Constata-se, porém, que GN é não só incapaz de explicar certas 'anomalias' fonológicas, morfossintácticas e semânticas que podem ocorrer em LL  - o que significa, por outras palavras, que certas estruturas dos textos de LL são marcadas como agramaticais em LN -, como também não comporta certas categorias e regras específicas presentes e actuantes nos textos de LL e que GL deve ser capaz de descrever e explicar. Quer dizer, GL é uma gramática mais complexa e mais potente do que GN, pois não só contém regras que permitem descrever qualquer texto de LN, como compreende regras suplementares e específicas que permitem descrever os textos de LL.
(p.165) Se, como propõe van Dijk, subtrairmos GN a GL, obteremos um resultado (C) que representa o conjunto das categorias e regras complementar e especificamente literárias. Neste conjunto de regras e categorias, é necessário distinguir dois subconjuntos: o subconjunto CM, constituído pelas regras de GL que modificam regras de GN e que configuram uma competência derivada (ou secundária) em relação à competência básica (ou primária) dos locutores nativos de LN; e o subconjunto CE, constituído pelas regras específicas que operam não só sobre categorias linguísticas, mas também sobre categorias especificamente literárias (por exemplo, regras e esquemas métricos).
Em relação a CE, entendemos, contra a opinião de van Dijk, que não é correcto falar-se de competência derivada ou secundária, pois que as suas regras não estão enraizadas na intuição do 'falante ideal' (ideal speaker), mas resultam de uma formulação, variavelmente impositiva, que é condicionada e determinada por factores histórico-sociais em geral, por factores endogenamente literários - a chamada tradição literária - e por factores intelectivos, volitivos e emotivos, de ordem individual. Isto significa que as regras de CE embora parcialmente condicionadas por estruturas linguísticas e embora operando a nível das estruturas linguísticas - as regras métricas (p.166), por exemplo, impõem determinadas constrições morfo-fonológicas, certas escolhas lexicais, etc. - constituem fenómenos translinguísticos não descritíveis, nem explicáveis directamente pela competência linguística dos falantes ou, derivadamente, por uma postulada competência literária teoricamente construída por decalque daquela."

(CONTINUA)

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