terça-feira, 3 de dezembro de 2013

CANTIGAS DE AMIGOS

O poema abaixo é do livro Ar de Arestas, de Iacyr Anderson Freitas, com fotografias de Ozias Filho, publicado em 2013 pela Escrituras.

              Colapso

Age o veneno no instante
em que se esvai toda imagem.
Nem gume nem mar: adiante
é dor a menor aragem.

Dor funda, intransitiva,
capaz de entranhar na face,
deixando-a em carne viva,
mas não há sangue em seu passe:
só o vermelho em metades
- de um rubor que mal renasce -
acusa o rol das herdades
que se envolvem nesse enlace.

Do veneno, apenas dor
(onde era memória) resta.
E esquiva, por onde for,
tal dor será fez e festa.

Festa para seu prazer:
para a própria dor, somente.
A ninguém basta entrever
o quanto pode a serpente.

O quanto pode a palavra
que o condenado carrega.
O mineral em que lavra
sua cartilagem cega.

Mineral, porém ativo,
sem forma e sem atributo,
que no corpo surge vivo
embora em metais de luto.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças