domingo, 31 de agosto de 2014

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (110)



T. S. Eliot

Pág. 239 - "A tendência formalista para desvalorizar, e mesmo para anular, a função do autor/emissor está exemplarmente consubstanciada num dos textos mais famosos e mais influentes da poética do new criticism norte-americano - o já citado ensaio 'The intentional fallacy' de W. K. Wimsatt e C. M. Beardsley, (p.240) que originou uma das mais vigorosas, complexas e prolongadas polémicas da teoria literária do século XX. Por 'intenção', Wimsatt e Beardsley entendem o desígnio ou o plano da obra literária existentes no espírito do autor - 'Intention has obvious affinities for the author's atitude toward his work, the way he felt, what made him write' - e por 'falácia da intenção', designam o erro lógico e metodológico que consiste em interpretar e julgar um poema, concebido lato sensu como equivalente a obra literária, com fundamento na intenção do autor.
Subjacente a esta condenação da 'falácia intencional' não se encontra qualquer argumento explícita ou implicitamente relacionado com a psicanálise e o domínio do inconsciente, mas sim a concepção do texto literário como uma entidade autónoma e autotélica, como um conjunto discreto de elementos formais e sémicos inter-relacionados, como um artefacto criado por um 'locutor dramático' ('dramatic speaker') que se torna independente do seu criador e cujo significado se institui como epifenômeno do ser que, primordialmente e em sentido absoluto, o texto literário é: 'A poem should not mean but be'. A poem can be only through its meaning - since its medium is words - yet it is , simply is, in the sense that we have no excuse for (p. 241) inquiring what part is intended or meant. Poetry is a feat of style by which a complex of meaning is handled all at once. Poetry succeeds because all or most of what is said or implied is relevant; what is irrelevant has been excluded [...]'. Wimsatt e Beardsley não convalidam semelhante concepção da obra literária mediante argumentos de qualquer espécie, pois que se limitam a enunciá-la sob forma de proposições axiomáticas, mas torna-se óbvio que a sua doutrina se enraíza de modo genérico nas teorias da arte pela arte e, de modo mais particular, na teoria de T. S. Eliot sobre a objectividade e a impessoalidade que devem caracterizar a 'autêntica' poesia. Em conformidade com esta perspectiva anti-intencionalista, a análise de um texto literário deve ser alheia a problemas de ordem genética, de natureza histórica ou biográfico-psicologista, à atitude do autor em relação à sua obra, aos motivos que o levaram a escrever ou a quaisquer outros factores similares: a rejeição da 'falácia intencional' postula a inteligibilidade da obra literária como entidade autónoma e autoconsistente (p. 242) ('self-contained') e implica a exclusão, como irrelevantes para a interpretação do texto literário, de todos os elementos de informação exteriores a esse mesmo texto."

(CONTINUA)

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