terça-feira, 20 de outubro de 2015

LITERATURA: O QUE É ISSO? (6)

Publicamos hoje o 6ª artigo sobre Literatura escrito por Menalton Braff para o site Celulose Online. Acesse a publicação original.

Literatura: o que é isso?

10/10/2015 – Como vimos anteriormente, a narrativa literária é constituída, explícita ou implicitamente, de alguns elementos que lhe são indispensáveis. No artigo anterior, mesmo que sucintamente, foi feita uma descrição do elemento Personagem.

Uma vez que narrativa é o relato de uma sequência de ações de alguma maneira articuladas entre si, e uma vez aceita essa definição, pode-se então afirmar que toda ação transcorre no tempo, sendo este um dos elementos da narrativa literária.

Há muitas maneiras de se trabalhar o tempo e outras tantas maneiras de enfocá-lo.


Em primeiro lugar, deve-se fazer a distinção entre tempo do discurso e tempo da história. Entender tal distinção é fundamental para que se tenha clareza do processo da narração.

Para exemplificar, tomem-se duas escolas literárias: o Romantismo e o Realismo.

Do Romantismo, pode-se dizer que, em geral, o discurso é mais rápido, tomando-se menos tempo para um maior número de ações. E isso porque o Romantismo aprofunda menos a escavação nos subterrâneos da personagem. Tomemos um caso exemplar: Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, um escritor brasileiro. Em poucas páginas o narrador vai da infância do Leonardo até o início de sua maturidade. Os fatos acontecem quase que vertiginosamente. E isso porque, nessa escola, a intriga é que interessa, os fatos são mais importantes do que as personagens. Com pouco discurso, relatam-se muitos fatos.

No Realismo, ao contrário, já não são os fatos o que mais importa, e sim, suas motivações. Neste caso, é de suma importância o aprofundamento nas razões das personagens, seu pensamento, seus sentimentos que servem de motivações para seu comportamento. Machado de Assis, sobretudo em seus livros de maturidade, é um bom exemplo do que se estás falando. E Memorial de Aires é emblemático neste sentido. São muitas e muitas páginas desde o primeiro encontro entre Fidélia e Tristão até a confirmação do amor que se confessaram.

Em resumo, e abandonando o exemplo dessas duas escolas, há romances, como o Ulisses, de James Joyce, em que um dia de Mr. Bloom é narrado em 850 páginas (claro que se trata de um caso extremo), mas, por outro lado encontra-se o Golpe de Misericórdia, de Marguerite Yourcenar, em que a história toda, que atravessa a segunda guerra mundial é contada em 120 páginas.

A narrativa pode ser lenta, como no caso de Ulisses, como pode ser acelerada, como em Golpe de Misericórdia. Isso tudo depende daquilo a que se propõe o autor, ou seja, qual dos elementos ele quer priorizar. E não se pode esquecer que a linguagem, como no caso de Ulisses, é de longe o aspecto mais importante do livro. Suas rupturas com os códigos literários existentes, suas inovações, invenções, seu discurso inteiramente estranho e inovador.

Há ainda com respeito ao tempo um outro enfoque possível. O tempo histórico, o tempo da sociedade humana. Pode estar explícito, como no caso do Golpe de Misericórdia, que marca o ano de 1939 como o início do romance, mas também pode ser não datado, podendo-se, entretanto, estabelecer alguns vestígios reveladores, como andar de automóvel ou de tílburi, que servem de indicadores velados do tempo histórico.

* Menalton Braff é escritor, com 21 obras publicadas e colunista da revista Carta Capital.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças