quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O LIVRO DE ROVANA

Em primeira mão, aqui no Blog do Menalton, a orelha escrita por Braff para O livro de Rovana, do escritor Joaquim Maria, que está em fase de produção.

SEM RESPEITO PELOS LIMITES


O livro de Rovana é uma biografia, mas não uma biografia como sói acontecer com a maioria dos textos desse gênero. E são várias as razões para que assim seja. A começar pelo autor, Joaquim Maria, filho da saudosa Ruth Guimarães, integrante da Academia Paulista de Letras, e irmão da protagonista. 

No decorrer do texto, encontram-se momentos de intenso afeto do irmão/autor por Rovana, em harmonia com a isenção do grande jornalista, que ele é. Mas não é só, tudo isso vazado numa linguagem elegantemente literária que torna agradável a leitura deste Contudo, não são apenas os aspectos formais e as táticas narrativas, que isso depende do narrador. A maior surpresa e o que mais surpreende é a protagonista da história, a Rovana. 

O relato biográfico cobre a vida toda da personagem principal, cerca de cinquenta anos. E esta é uma história comovente de rompimento com os limites impostos pela natureza e suas circunstâncias. 

Rovana nasceu surda-muda. Ninguém acreditava na criança como um ser capaz. Exceto a família. Escolas e hospitais fizeram parte das andanças da grande escritora que em momento algum perdeu as esperanças. E foi junto de seus irmãos que teve uma vida tanto quanto possível normal. Mesmo sem falar e ouvindo pouco mais que zero, e com o auxílio da professora Gioconda, a menina aos onze anos já lia e escrevia. Mas ainda não Sua escrita, sobretudo no âmbito da sintaxe, tem uma lógica muito peculiar, com atribuição de valores próprios a algumas palavras e outras tantas construções. O 
significado, entretanto, é sempre acessível. 

Para a composição desta biografia, o autor se valeu dos 194 cadernos deixados pela protagonista, todos eles em forma de diário, onde registrava ações e emoções, a seu modo, e muitas vezes em uma linguagem com estranhamentos poéticos.

Alguns exemplos:

Mas agora eu sei falar e escutar. Eu falo tudo errado, porque não aprendi a falar direito. Eu ainda não estou mais na escola, porque eu não preciso. Sou só um pouco surda-muda. Eu trabalho aqui em casa, como dona-da-casa.

Estou doendo muito o meu braço. 

... eu tapei minha mão no ouvido.

Ele bateu de mim com força... Estou tão tristeza.

Mãe, eu já servi a roupa.

Rovana foi uma criatura magra, miúda, mas com uma coragem muito maior do que ela para desrespeitar tantos limites. 

Um livro que agrada tanto pelo plano do conteúdo quanto pelo plano da expressão.

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