quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

DEGUSTAÇÃO 3 - MIRINDA

                          Feliz Natal!

Como hoje é véspera de Natal, vamos dedicar a nossa postagem às crianças. A obra da vez será Mirinda, editada pela Moderna.

Para mais informações, acesse a página do livro aqui no Blog do Menalton.


Mirinda, Menalton Braff

1

Por fora nenhum sinal particular

A história toda começou numa tarde que transcorria sossegada, até o momento em que a terra tremeu ao som de pancadas potentes e compassadas, que se ouviam lá no fundo do formigueiro. As formigas jovens se alvoroçaram, correndo para todos os lados, com olhos de desespero. Uma formiga mais velha explicou:

- Calma, isso é a passagem de um homem. Vocês nunca viram, mas eles já foram comuns por estas bandas. Eles são descomunais, gigantescos mesmo.


- Mas não pode ser um cavalo ou um elefante? - perguntou Mirinda, que era sempre a primeira a perguntar e por isso muito esperta.

- Não, não pode. Ouça como as pancadas são de apenas dois pés. Os outros animais, quase todos, caminham usando quatro pés.

- E nós, não entramos em sua conta? Nós temos seis.

- Eu sei, minha querida, o que acontece é que nossos passos são muito silenciosos,  como todos os insetos, por isso nem pensei em nos incluir.

Mirinda não esperou qualquer explicação a mais e disparou para a entrada do formigueiro para ver aquele ser desconhecido.

*

Antes de continuar a história, precisamos conhecer Mirinda, sua protagonista. Para isso, vamos encontrá-la trabalhando numa esplêndida manhã de sol.

Mesmo examinando com muita atenção aquela fila sem fim de formigas caminhando apressadas no carreiro, não se pode descobrir qual delas é Mirinda, a heroína desta

história. Ela é forte e bela, tem três pares de pernas, duas antenas com cotovelos, a

cabeça grande e de um marrom tão brilhante que parece envernizada.

Mas não, essa descrição não é suficiente para que se possa identificá-la. Todas as outras, as que vão à sua frente e as que lhe seguem os passos, todas elas, cabem na mesma descrição.

Ah, uma coisa que ainda não foi dita a respeito de Mirinda: ela é bem jovem. Não se pode ter muita certeza, mas é bem provável que levar às costas este pedaço de folha esteja sendo uma de suas primeiras tarefas úteis à comunidade. Ela não passa de uma adolescente. E essa aparência juvenil, que talvez pudesse ajudar sua identificação, não nos serve de nada, pois este carreiro raras são as formigas adultas. A grande maioria delas regula em idade. Sua juventude, portanto, também não nos serve como uma de suas peculiaridades.

Do alto ou de longe, exame nenhum nos ajuda. É preciso que nos aproximemos dela, que a observemos atentamente, porque Mirinda se diferencia das demais por algo muito sutil, por detalhes que não são marcas exteriores de seu corpo. O que a faz diferente vem de dentro, e só examinando seus olhos é possível perceber alguma diferença.

Mirinda está sempre olhando para os lados, e seus dois olhos, além de grandes, têm uma infinidade de pequenas lentes que brilham o tempo todo. Pois é nesse brilho que está sua marca. É um brilho que vem de dentro de sua cabeça e que significa uma vontade muito própria, uma determinação que a torna perigosa, pelo menos na opinião de suas companheiras.  

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