Quando não me reconheço
é quando grito
Socorro
Não pareço eu
pareço alguém pedindo
Socorro
É que não me reconheço
quando arrisco a fuga
Não arrisco tudo
o que há para socorrer
Peco pela desavença
Temo pela carência
Ouso pela virtude
de um dia vir a sorrir
Escondo os soluços
Sorrio por fora
Conto os dias que faltam
para outro amanhecer
Me afasto de todos
Me cerco de juízo
Me abstenho simplesmente
do que queria encontrar
Frases que encontro
no interior de alguém
Lapido como joia
que saiu do estado bruto
Nomes que não existem
tomo por merecedores
da minha pouca disposição
Sigo no mar infinito
sem sinal de porto seguro
Só conheço o tempo e a fadiga
a ânsia, o nada e a
náusea
Quando o tempo passa
vem a tarde e a lucidez
Amanhece com a sensação
de ser o mesmo dia de ontem
O grito solitário
de quem não gritou o bastante
ecoa para dentro do próprio
crânio
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