quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

ESPIANDO POR DENTRO

Esta coluna reúne análises de livros elaboradas por Menalton Braff e publicadas originalmente em seu site.

Livro Analisado: Morte e Vida Severina
Preparação: Prof. Menalton Braff

A Obra

Morte e Vida Severina (auto de natal pernambucano) - Poema dramático, escrito em versos redondilhos, herança popular-medieval.

É o reteiro de Severino, que demanda o litoral em busca da vida, mas topa em cada parada com a morte, presença anônima e coletiva – no último pouso, enquanto discute com o Mestre Carpina o valor de continuar vivo ou não, recebem a nova do nascimento de um menino: signo de que algo resiste à constante negação da existência.

- Primeiros versos: identificação com ampliação - Severinos.


- Emblema:
"E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual
mesma morte severina:"

-Morte severina?
de velhice antes dos trinta
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia

- Vida severina?
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia
na mesma cabeça grande
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
o sangue que usamos tem pouca tinta

- Encontro com primeiro morto - Severino Lavrador, carregado numa rede
morto numa emboscada

- Ironia: Sempre há uma bala voando
desocupada.

- Tem medo de perder-se: O Capiberibe, seu guia, secou. Monólogo do
Retirante. A terra e o clima são acusados das mortes.

- Primeira parada: Estão cantando para um defunto

- Denúncia:
Dize que levas somente
coisas de não:
fome, sede, privação

- Cansado da viagem, procura trabalho:
- Comentário:
" Desde que estou retirando
só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva
só a morte tem encontrado
quem pensava encontrar vida"

- A mulher da janela
Depois de dizer que de nada adianta lavrar a terra, que nada dá, ela arremata:
"Só os roçados da morte
compensam aqui cultivar
e cultivá-los é fácil
......................................
e dão lucro imediato;
nem é preciso esperar
(Melhor profissão do lugar: rezadora titular)"

- Na zona da mata: terra mais branda, macia
Depois de louvar as belezas de uma terra assim, assiste ao enterro de um trabalhador de eito.
"É a parte que te cabe deste latifúndio"
"Mas não senti diferença
Entre o Agreste e a Caatinga
E entre a Caatinga e aqui a Mata
a diferença é a mais mínima."

- Em Recife: Cemitério de ricos e cemitério de pobres (diferenças). Santo Amaro e Casa Amarela.
Bairro A: usineiros, políticos, banqueiros, industriais
Bairro B: funcionários, jornalistas, escritores, artistas, bancários, lojistas,
boticários, profissionais liberais
Bairro C: industriários, comerciários, operários
Bairro D: indigentes, retirantes

- Em um dos cais do Capiberibe: intenção suicida
Aproxima-se Seu José, mestre carpina, com quem discute o valor de continuar vivo. Uma mulher, de uma das portas, anuncia o nascimento de um menino (Jesus?) como resposta a quem vinha procurando fugir da morte.

O autor

João Cabral de Melo Neto (1920) Nasceu em Recife de família ligada aos engenhos de açúcar. Concluiu seus estudos no Rio e prestou concurso p/carreira diplomática. Pós-modernismo ou geração de 45. Morto no Rio de Janeiro em 1999. Características Hermetismo como sondagens no mundo onírico. Tendência em direção ao surrealismo. Poeta-engenheiro: preocupação com a construção poética (esteticismo). Objetividade na constatação da realidade, do cotidiano. Interrogações a respeito dos meios de expressão poética. Apuro estético. Equilíbrio entre seus materiais (palavra, imagens) com a temática social. Incorporação de palavras do cotidiano prosaico ao mundo lírico.

Temática

a) o Nordeste com sua gente (retirantes, tradições, herança medieval, engenhos, mocambos, cemitérios, o rio Capibaribe).

b) a Espanha e suas paisagens (pontos em comum com o Nordeste brasileiro).

c) a própria arte e suas várias manifestações (a pintura: Miró, Picasso, etc.; a literatura: Valéry, Cesário Verde, Augusto dos Anjos, etc.)

Obras

  • Pedra do sono (1942)
  • O engenheiro (1945)
  • O cão sem plumas (1950)
  • Duas águas (1956)
  • Terceira feira (1961)
  • Morte e Vida Severina (1960?)
  • Fábula de Anfíon e Antiode
  • Psicologia da composição
  • O rio
  • Auto do frade
  • Agrestes
  • Crime na Calle Relator

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