PEQUENOS
ASSASSINATOS
(Affonso Romano de Sant'Anna)
Vegetariano
não dispenso chorar
sobre
os legumes esquartejados
no
meu prato.
Tomates
sangram em mim boca,
alfaces
desmaiam ao molho de limão-mostarda-azeite,
cebolas
soluçam sobre a pia e
ouço o grito das batatas fritas.
Como.
Como
um selvagem, como.
Como
tapando o ouvido, fechando os olhos,
distraindo
na paisagem o paladar,
com
a displicente volúpia
de
quem mata para viver.
Na
sobremesa
continua
o verde desespero:
peras
degoladas,
Figos
desventrados
e
eu chupando o cérebro
amarelo
das mangas.
Isto
cá fora. Pois lá dentro
sob
a pele, uma intestina disputa
me
alimenta: ouço o lamento
de
milhões de bactérias
que
o lança-chamas dos antibióticos
exaspera.
Por
onde vou
- é luto e luta.
- é luto e luta.
Fantástico, um poeta que transita por todas as artes, lúcido lúcido!
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