Livro Analisado: Lucíola
Autor: José Martiniano de Alencar
A Obra
Lucíola é um romance que pertence ao grupo dos romances urbanos de José de Alencar. Retrata, no espaço, a corte, isto é, a cidade do Rio de Janeiro; no tempo, a contemporaneidade, ou seja, o início da 2ª metade do séc. XIX (1862): Brasil-Império.
Personagens
Lúcia - Bela mulher com cerca de 20 anos. Prostituta de luxo, arrasta atrás de si homens de várias idades e fortunas. Temperamento difícil, geralmente inexplicável. Por não se conhecer sua história,
desconhece-se também a razão de seus caprichos. Seu verdadeiro nome é Maria da Glória, que troca para que a família a tenha por morta.
Paulo Silva - Jovem recém-formado que vem do Norte para estabelecer-se no Rio de Janeiro. Nos primeiros encontros (casuais) com Lúcia, fica impressiona-do com a moça, sua beleza, seu recato. Por intermédio de amigos, conhece a verdade a respeito de Lúcia, mas não consegue evitar a paixão, contra a qual luta desesperadamente.
Sá - Amigo de Paulo, mais velho que este, há mais tempo no Rio de Janeiro. Adverte frequentemente o amigo a respeito dos caprichos inexplicáveis de Lúcia.
Couto - Velho que, aproveitando-se de uma desgraça, consegue os "favores" de Maria da Graça por algumas moedas de ouro - caminho inicial e inevitável para a prostituição. Persegue a moça a vida toda, inconformado com o fato de não ser seu amante exclusivo. Aparecem outras personagens (jovens boêmios e viciados, prostitutas, etc.) mas com menor importância para o desenvolvimento da ação.
Espaço
O espaço aberto, no sentido de uma geografia real, é a cidade do Rio de Janeiro. A rua do Ouvidor, as ruas elegantes do Rio do século XIX. O espaço fechado, onde transcorrem a maioria das ações, é inicialmente a casa de Lúcia. Casa rica e luxuosa, como convinha a pessoa de sua profissão. Mais tarde, depois da regeneração de Lúcia, a ação transfere-se para uma casa simples, de poucos cômodos e móveis humildes.
Tempo
O tempo externo, ou histórico, é o início da segunda metade do séc. XIX. Isto é, o ano de 1 855. Há referências estritas a respeito da época, sendo a mais importante a peste de 1850 que, entre muitas outras pessoas, atinge os familiares de Lúcia. O tempo narrativo, pelo menos de quase toda a ação, é de pouco mais de seis meses. Uma narrativa lenta, de análises e reflexões.
Narrador
O narrador é Paulo Silva, protagonista da história.
Estrutura
O romance é dividido em vinte e um capítulos numerados.
Estilo
Trata-se de estilo epistolar. A receptora não participa da história, é personagem em off, serve apenas de pretexto para que a história seja mais verossimilhante. O narrador lança mão de adjetivação farta, períodos longos, mas cadenciados, e outros recursos estilísticos, como a interlocução e a metalinguagem.
Características românticas
A heroína, Lúcia, mesmo sendo morena e inicial-mente uma mulher decaída, sempre que descrita é idealizada. Logo no início assim se refere o narrador a Lúcia: A expressão cândida do rosto e a graciosa modéstia do gesto..." Logo adiante, encontra-se outro período exemplar: Como deve ser pura a alma que mora naquele rosto mimoso!"
Existem outros itens que abonam a classificação:
- amor inelutável, mais forte que o homem, capaz de arrastá-lo à miséria ou elevá-lo às alturas;
- amor que purifica, que redime, transformando o demônio, que era Lúcia no início, em anjo, como ela é no final; como exemplo: " - Tu me purificaste ungindo-me com os teus lábios. Tu me santificaste com o teu primeiro olhar!
- valorização da natureza, como: "... a risada estridente de Lúcia, cujas volatas tinham o timbre metálico do canto da araponga entre os murmúrios da floresta." E no início do capítulo XI: "Encontram-se nas florestas do Brasil árvores preciosas, que, feridas, vertem em lágrimas o bálsamo que encerram." Observe-se que a natureza é aqui tratada de modo tipicamente romântico, isto é, empresta-se-lhe sentimento - natureza animizada;
- subjetivismo, como: "... o Sr. Silva, como os poetas, embelezou o seu quadro. Viu o que sentia; mas não o que era."
- amor eterno, como no final do romance: "Vou te amar enfim por toda a eternidade." O verdadeiro amor só pode atingir a plenitude no céu. Lúcia morre e Paulo mantém-se solteiro.
Ação
Paulo Silva, jovem ambicioso recém-formado, chega em 1 855 ao Rio de Janeiro onde pretende estabelecer-se. Impressionado com a beleza e a "graciosa modéstia do gesto" de Lúcia, uma cortesã da corte, começa a frequentar-lhe a casa. Advertido por amigos a respeito dos antecedentes da moça, Paulo tenta resistir ao amor que, entretanto, e de forma avassaladora, arrasta-o a uma paixão inelutável. Lúcia, modestamente, sabe que não merece o amor puro de um jovem como Paulo. Mesmo assim o ama. Ciúme, mágoas, orgulho ferido, sentimentos contraditórios vão aos poucos sendo expostos e analisados pelo narrador-personagem, o próprio Paulo, que escreve a uma amiga em off. Lúcia redime-se de seu passado e passa a viver apenas para o amor de Paulo. Conta-lhe, por fim, o caminho que a levou à prostituição, passando por Couto, sujeito acanalhado que no momento em que a menina tenta salvar a família às portas da morte, aproveita-se e compra sua virgindade. Muda-se para uma casa modesta onde vai viver com Ana, irmã menor, o que lhe resta de família. Está grávida, mas tudo faz para perder e filho, perdendo-se com ele. Antes de morrer recomenda a irmã ao amante que lhe servirá de pai no futuro. O romance termina com um tom de religiosidade na frase final de Lúcia:
- Recebe-me... Paulo!...
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