domingo, 2 de julho de 2017

MOTIVOS


Esta coluna reúne depoimentos de Menalton Braff sobre as causas que o levaram a escrever cada um de seus livros. O título em questão na postagem de hoje é o romance Bolero de Ravelhttp://blogdomenalton.blogspot.com.br/p/bolero-de-ravel.html, publicado em 2010 pela Global.

Bolero de Ravel
   
Bolero de Ravel não nasceu como finalmente ficou.

Tive a notícia de que um parente meu sustentava um filho que andava aí pelos trinta e cinco anos. O adultescente não estudava, não trabalhava, não assumia compromisso sério e estável com mulher nenhuma.

Depois desse caso, relatado pelo próprio pai, comecei a ler artigos e notícias, comecei a observar empiricamente o que acontecia a minha volta e descobri que só eu não tinha ainda percebido aquilo que era um fenômeno social, mas que ia muito além das minhas leituras e da minha percepção: era um fenômeno mundial.

Meditando sobre aquilo que me parecia um problema, e não consigo afirmar com muita convicção que seja problema, comecei a imaginar alguma situação dramática que poderia ser consequência disso
que hoje encaro apenas como mudança dos costumes.

Na verdade, tentando entender a questão, uma das conclusões a que cheguei que o fenômeno é resultado de transformações sócio/econômicas. As sociedades nunca produziram tanto (se bem que para usufruto de alguns poucos) e isso permitiu que famílias sobretudo de classe média tivesse folga suficiente para manter os filhos em ócio até a idade madura. A verdade é que nunca encontrei adultescente oriundo de famílias proletárias.

Encontrado um sentido dramático para o caso, a história começou a se formar e não demorou muito a vontade de registrar aquilo literariamente me atropelou.

Uma das ideias que me ocorreu agregar à historia é uma afirmação que me parecia ter lido em Freud, ou algum freudiano. Ou seja, Toda nossa experiência, desde o nascimento permanece no consciente ou vai para o inconsciente, mas nós nunca nos desfazemos dela. Ainda mais, existem cenas do passado que voltam com frequência, disputando espaço com o presente, às vezes até mais fortes do que aquilo que está em ação no momento.

Ali pelo segundo ou terceiro capítulo, me ocorreu que a recorrência a algumas cenas do passado repetiam mas sem rigor a estrutura do Bolero de Ravel, que sempre me pareceu uma espécie de repetição obsessiva, até terminar naquela apoteose. Ora, a percepção do parentesco, mesmo que distante, entre a música e o discurso, me encaminhou para outros significados, como a mãe pianista, o André maníaco por certas músicas, as repetições quase obsessivas até o final apoteótico, uma cena quase que fantasmagórica.

A Editora Global publicou o romance em 2010.

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