
Cantata e fuga em mim
A Lucy Gandra se inicia na literatura narrativa com seu romance "Concerto em si". E se inicia do alto de seu conhecimento da língua, sua matéria-prima, que domina magistralmente, e da música, uma espécie de acompanhamento que jamais abandona a trama, do início ao fim.
Focalização interna fixa é como os teóricos modernos descreveriam o ponto de vista adotado pelo narrador. É uma espécie de narrador, no caso, em terceira pessoa, mas praticamente grudado aos olhos de Simone, muito poucas vezes afastando-se de seu campo de visão.
Com laivos de psicanálise, a autora procura no passado, mesmo um passado anterior à existência de Simone, a explicação para seu comportamento desajustado. Sua rebeldia, o ódio que sente pelas pessoas, o desprezo que sente por si mesma, tudo isso decorrendo de fatos que a
antecederam e que a acompanharam em seu crescimento.
Simone, a protagonista, vive uma fogueira de paixões desencontradas, e sofre por não saber que seu ódio é ódio ao desamor.
Convidada para uma festa de confraternização, vê-se envolvida numa intriga familiar da qual, peça mais frágil, dificilmente sairá incólume. Simone cria um mundo virtual paralelo a seu mundo real, transitando entre os dois de acordo com suas conveniências.
Não se trata de moralizar o comportamento desta ou daquela personagem, mas de analisar em profundidade, como faz a narradora, para do fundo emergir com uma melhor compreensão da alma humana.
A Lucy não é uma promessa: ela está pronta. Empenhou-se em uma tarefa cheia
de ciladas, a produção de um romance psicológico de vasto fôlego. E se saiu irosamente sem se deixar queimar pelas chamas da fogueira em que sua Simone está mergulhada.
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