Frequentemente Menalton é convidado a escrever orelhas de livros. Após tantos anos de carreira literária, já são inúmeras. Daí a ideia desta coluna que reúne orelhas de sua autoria e ajudar a divulgar os respectivos livros.
CATAGUASES, A MÍTICA
Não
me perguntem qual o segredo de Cataguases porque também não sei. Há quem diga
que são as águas do rio Pomba: tenho cá minhas dúvidas. Mas que é um berço fecundo
de nomes para a literatura nacional, disso ninguém duvida. Nomes como Rosário
Fusco e Ascânio Lopes foram sucedidos por Chico Peixoto, Luiz Ruffato, Ronaldo
Cagiano e agora esta surpreendente Eltânia André, cujos originais tenho em
mãos.
Manhãs adiadas é uma coletânea de catorze
contos, sendo que o último, Estações, está dividido de acordo com um itinerário
de seis estações – com textos independentes.
O
livro é surpreendente por diversas razões, que em uma orelha não se vão
esgotar. Uma delas, entretanto, que merece destaque, é o leque de conhecimentos
(do ser humano e do mundo) que a autora aborda com desenvoltura. Outro aspecto
a destacar é a riqueza de técnicas narrativas, as inovações, a diversidade de
temas.
Manhãs adiadas pode ser divido em duas
partes bem distintas. Até o oitavo conto, O
canto da cigarra, predominam a prosa e a narrativa poéticas, em que o
discurso assume o valor de elemento
fundamental dos contos. O primeiro conto,
por exemplo, Parábola de Olgamaria, a
despeito de escrito em terceira pessoa, é uma narrativa poética, com os
ingredientes que os teóricos lhe exigem, como a circularidade e o mito.
Nesta
primeira parte, a linguagem atinge momentos de poeticidade dignos de um escritor
experiente e senhor das virtualidades da língua. Pois bem, Eltânia André,
depois de um percurso mais ou menos longo, passando por funções
administrativas, depois formação em psicologia, vem encontrar sua vocação na
literatura com este segundo livro publicado.
Do
nono conto, O rascunho da solidão de Alzira,
até o último, a autora vai caminhar no fio da faca dos limites entre o conto e
a crônica, dando passos ora de um lado ora do outro. A incorporação de
elementos da realidade empírica (nomes, lugares, fatos) dá este sabor de relatos
do mundo conhecido, ou seja, crônica de atualidades. Por outro lado, é nestes
últimos textos que acontece uma inflexão no modo de narrar, aproximando sua
linguagem literária de um coloquialismo popular, mas ágil e colorido.
Na
segunda parte vão predominar cenas de rua, uma fila à espera de entrevista para
emprego, crendice popular e a respectiva exploração, enfim, dramas urbanos,
pequenos/grandes dramas de um cenário urbano.
A
Eltânia soube captar com extrema sensibilidade tanto conflitos interiores, de
cunho mais metafísico, como a trepidação dos seres humanos convivendo
espremidos em uma grande cidade. Por tudo isso e muito mais, Manhãs adiadas merece ser lido.
Menalton
Braff
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