
Alguém me disse, e eu não me lembro mais quem foi, que o otimismo irredutível se confunde com a ingenuidade. Assim como coisa de criança. Passei, então, para não me entender ingênuo, a cultivar uma espécie de brando pessimismo. Brando, mas verdadeiro. Meus óculos de ver o mundo não tinham lentes cor-de- rosa.
Naquilo que passou a ser minha atividade principal depois de aposentado do magistério, isto é, os livros, produzindo-os e os consumindo, mantinha, e até certo ponto mantenho ainda, um olhar desconfiado, sem as lentes verdes da esperança. As pesquisas mostram o quanto estamos atrasados no quesito leitura, sobretudo quando nos comparamos com nações mais antigas e de melhores índices de escolaridade.
Mas apesar de meu pessimismo, mesmo sendo ele, o pessimismo, de um tipo brando, nunca aceitei que fôssemos comparados com países que já produziam ciências e humanidades quando o Pedro Álvares Cabral aqui aportou. Uma comparação sincrônica com outros países. Julgava, e julgo, que a comparação deva ser diacrônica, isto é, do Brasil de tempos idos com o Brasil atual.
Isso abrandava ainda mais meu pessimismo. Na última segunda-feira, 23/04/18, estive em Belo Horizonte a convite da rede Livraria Leitura para o lançamento do projeto Clube Leitura.
Isso me lembra de uma anedota acontecida comigo. Um livreiro de nome Osvaldo tinha sua livraria perto de onde eu morava. Quase todos os dias eu entrava para o meio dos livros. Um dia perguntei ao Osvaldo se ele tinha a Mãe, do Gorki. Muito espantado ele me respondeu com uma pergunta: Mãe de quem?
O Osvaldo me chamava de Menaldo, certo de que era esse meu nome. Eu o chamava de Osvalton, e tenho certeza de que nunca desconfiou da minha brincadeira. Hoje, no lugar de sua livraria há uma quitanda. A função de livreiro exige muito mais do que a contagem da féria no fim do dia.
Então, voltando a Belo Horizonte. Conheci o Igor Mendes, gerente do Clube de Leitura, amante entusiasta do livro; conheci a Leila Ferreira, jornalista e escritora, uma das consultoras do clube. E tive também o prazer de conhecer o Marcus Teles, diretor da rede, em cujo pronunciamento senti conhecimento do mundo dos livros, mas muito mais, verdadeira paixão por aquilo que poderia ser apenas uma mercadoria, uma mercadoria como qualquer outra. Não acredito que alguém se apaixone por cenoura e chuchu.
Quem vende livros não vende apenas mercadorias, vende vida, cultura, conhecimentos. Quem vende livros tem uma função social de alta relevância. Quem o faz com amor, então, tem as mãos perfumadas.
Voltei com o coração mais leve.
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