ORELHA

Esta coluna reúne apresentações de livros feitas por Menalton Braff. O livro de hoje é a uma antologia poética UNI/VERSOS, coordenada por Ely Vieitez Lisboa.

Prólogo 

(apesar de desnecessário)

            Se você veio de sítios onde não habita o ser humano; se é dura e impermeável a pele que lhe serve de continente; se o coração que bate em seu peito em seu bater não repercute a brisa das manhãs nem o perfume das rosas, não se faz resposta ao canto dos pássaros nem ao esplendor de um céu opalino ao pôr-do-sol, então, feche este livro, porque ainda é tempo. Se você insistir, movido por curiosidade, teimosia ou necessidade, cuidado! Isto é um complô de treze almas que, em cabala, de sete em sete dias, trabalham para resgatar o ser humano das garras de sua vida banalizada.

         

Se você insistir, não serei seu guia, que a tanto não fui designado por absoluta falta de habilidade. Mas ser-lhe-ei fiel companheiro, que antes de você já percorreu este caminho. 

         

A poesia, não só poíesis, é o melhor lugar para se morar. Neste UNI/VERSOS habitam todas as raças de sensibilidade ou de cosmovisão. Nele você nunca se sentirá sozinho. A seu lado poderá ser encontrado o sensualismo de “O céu enlouquecido de azul/ o ipê florido/transbordo de brancura” (restaure-se, então, este sentido da palavra “sensualismo”), ou de “Atravessa a foto uma horizontal/Linha pontuada por homens/ Embandeirados, errantes, vermelhos” em que os sentidos são as antenas privilegiadas na captação da beleza das coisas; e, do outro lado, é fácil descobrir o pensamento em estado de pureza como  neste “Procuro-me/entre uma/confusa esperança/e uma doce mentira.”

         

Quando chegarmos ao fim deste caminho, quero vê-los de olhar brilhante, em êxtase, orgulhosos de sua humanidade e tocados pela verdade do Quintana: nesta viagem, o  que mais importa não é o destino - é a viagem.