quarta-feira, 24 de abril de 2019

CANTIGAS DE AMIGOS

PROCURA-SE*

(Matheus Arcaro)

Em que parte do corpo
se encontra a clemência?
Consultemos, para o resgate,
os manuais da criação humana!
Estaria camuflada sob a língua
dos verbos imperativos,
o verbo que se fez carne
onde estão os nervos de deus?
Estaria presa
nas cavas do peito podre
que prefere morte em vez de perdão?
Estaria desmaiada
no sótão da memória,
que acredita em tempos áureos
de quepes, coturnos e castração?
Estaria no caminho de volta ao cérebro,
desejo de um estado pré-fetal,
ao descobrir que se tornara obsoleta?
A clemência está desaparecida.
Mas pouco adianta pregar
placas pelos órgãos oferecendo recompensa.
A clemência não aparecerá
enquanto os homens
continuarem com chorume nas veias,
enquanto os homens
não virarem do avesso
o que chamam de vida.

*Poema do livro “Um clitóris encostado na eternidade”, com publicação prevista para o
segundo semestre de 2019 pela editora Patuá.

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