O Sucessor
(Shellah Avellar)-Trata-se de política, está claro? - vocifera o velho líder.
O capitão, alheio às suas palavras e continua polindo seus botões e engraxando seu coturno.
-Tá ouvindo Saissem? - gritou Alul.
Saissem responde: - Sua força existe porque o senhor nada possui. O senhor não conhece os que estão a seu lado. O senhor é o último chefe antifascista do Reino de Lisarb . Conforme-se!
-Um homem da História é um fermento. É um grão. Olhe para mim, capitão!
O capitão continuava cabisbaixo, polindo seu coturno. Retruca : A História se realiza com o martírio.
-Você só pensa nisto, não é Saissem? Pedaços de corpos humanos e sangue.
-Ir longe. Bem longe. E, assim, permanecer. Saissem sussurra com olhos esbugalhados.
-Mas permanecer em face de quê?
-Da Mentira. Verdadeira ou Falsa! E a repetição tem valor de promessa. O povo quer o engano. A libertação de seu sofrimento é a ilusão. A obra recomeça sempre a partir da derrota. Não há vitória.
Saissem vai até a janela e reza um salmo da Assembleia de Deus em voz alta: Descanse Nele e Ele descansará em você!” Isto serve para o povo do Reino de Lisarb.
E,lembre-se, Alul! Não há nada em comum entre mim e o que está acontecendo. Sou apenas o seu sucessor.
Alul balança a cabeça e replica-Não tenho sucessores! Todo mundo sabe disto. Você não é meu sucessor. É, antes, sim, um usurpador. Porque estamos à beira do desastre. Você condenou o povo à sua forma particular de ser pequeno. A vaidade miserável de ser apenas o que é singular, grudado em sua terra natal e a seus deveres.
Eu, o elevei à sua forma de nação. Porque o povo não é apenas um Estado de Comunidade. Porque ser povo é ser horizonte.
O capitão amarra seus cadarços e ri. -Você está com ciúmes. Mesmo um grande líder não está livre de sentimentos mesquinhos.
-Meu caro Saissem. Você é um personagem assombrado. Jamais entenderá o que explode nas entranhas de quem sabe descobrir e realizar.
Não lhe cabe a grandeza desta celebração.
-Minha alma alberga neste cubículo, protegida pela força de enfrentamento da adversidade através das memórias que são a minha ressurreição. Quanto a você? Você é uma ficção. Você é a eminência
parda de sua própria insignificância.
-Guardas! Abram a porta!- berra Saissem.
Saissem sai empertigado com a expressão contraída e rangendo os dentes retomando sua prisão ideológica, deixando Alul livre com seus pensamentos de vitória.
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