TODOS SE VÃO
(Wagner Coriolano)Santiago, Guantânamo, Camagüey, Cienfuegos, Cárdenas, Havana e Pinar del Rio são sete nomes de uma Ilha que não se encerra na capital. Cuba nos chega de todos os lados através da música, do cinema e da literatura, nas artes, assim como do atletismo e da medicina. Em Todos se van (2006), de Wendy Guerra, parte da narrativa se passa fora da cidade de Havana, em Cienfuegos e arredores, embora na tradução a ênfase recaia sobre a capital cubana. A edição brasileira da Editora Âmbar, de Minas Gerais, altera o título para Diários de Havana (2007).
O romance se divide em três partes: o prólogo, o diário de infância e o diário de adolescência. A escritora aproveita páginas dos Diários de Nieve Guerra na construção da estrutura da obra, que acompanha a passagem do tempo na vida da narradora. Um fragmento de Anna Frank antecipa, com palavras preliminares, as palavras e registros de Nieve: “Poderíamos fechar os olhos perante toda esta miséria, porém pensamos naqueles que nos são queridos, e para os quais tememos o pior, sem poder socorrê-los” (Diário 19 nov. 1942). Nieve escreve para reunir os pedaços de vida em território pessoal.
O diário de infância anuncia o período entre 1978 e 1980, quando morava em Cienfuegos, ora com a mãe e Fausto, ora com o pai, por ordem judicial, sofrendo com a falta de comida e maus tratos. “Cienfuegos, a cidade de minha infância, me intimida: o expediente de minha mãe, os dias de julgamento por obter minha custódia, meu próprio expediente” (p.10). A página do diário – com dia da semana, mês e ano – funciona como capítulo do romance. Nieve fala da relação com os pais, da escola, das amigas e do próprio fazer poético e das leituras que realiza, “mi madre me trajo varios libros” (p.67). O tema da saída de cubanos da Ilha e das cidades do interior, em direção à capital, já aparece neste primeiro diário, quando registra que Elena se vai para Havana com seus pais.
O diário de adolescência, cujas páginas abrangem o período de 1986 a 1990, inicia com palavras do escritor cubano Eliseo Diego, onde o poeta fala da passagem dos anos do adolescente como andar sobre brasas. Nieve se torna mais consistente, sua prosa enriquece de elementos geopolíticos e literários, ainda que fortemente carregada de sentimentos e densidade existencial. “Não quero ser hippie como minha mãe, não quero Paz e Amor. Quero ser eu. Nenhum estado de ebriedade me parece necessário. Tenho quinze anos” (p.142). Algumas páginas do diário perdem a marcação de mês e ano e recebem um pequeno título. Em La casa de Osvaldo, El cuarto de Osvaldo e El deseo y el dolor, o leitor encontra uma fina expressão feminina da intimidade no encontro dos corpos.
Mais ao final do romance, a narradora insere a expressão “todos se van” pela primeira vez no texto: “Quase não há gente conhecida na cidade. Todos se vão. Me deixam só” (p.242). Neste momento, as diversas situações de despedida, de fuga, de pessoas e de meios de expressão que estiveram proibidas assumem um sentido maior do que a crítica ao regime.
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