Nunca entendi a razão por que se juntam pessoas de grupos os
mais heterogêneos para ouvir falar de assuntos com alguma especificidade, ou
seja, de conhecimento não corriqueiro. Naquela noite fui incumbido de discorrer
sobre linguagem literária, assunto que se leva alguns anos estudando para se
ter pálida ideia, mas que muitos promotores de eventos culturais supõem
passível de ser destrinchado em uma hora, uma hora e meia. E pra qualquer
plateia.
Isso tem ocorrido na minha vida e com bastante frequência.
Como o público sai depois de uma palestra dessas eu não sei, quanto a mim, saio
suando, com vontade de morrer, mas sem coragem para o ato final.
Uma dessas ocasiões me deixou marcado. Bastante gente na
plateia, para glória e honra dos promotores e angústia do palestrante, que, com
cara de pateta, olhava de um lado para o outro tentando descobrir qual o padrão
de linguagem a ser empregado. Apresentações e agradecimentos, lá estava eu de
microfone na mão ainda enrolando com alguma graça para conquistar o público,
até que não deu mais para segurar e o assunto foi enfrentado. A certa altura,
ocorreu a lembrança de que alguns exemplos sempre ajudam, pois dão concretude a
conceitos por vezes não familiares. Por isso, chamei a atenção da plateia para
o que faria: dois enunciados diferentes. Então parodiei um poema: