O conto a seguir está publicado no livro "A coleira no pescoço", publicado pela Bertrand Brasil.
Oh! que pai infeliz!
E,
se eu o condenei, por vossa causa o fiz.
Cruel!
Suporeis vós que estais justificada? (Teseu)
Esta casa ficou escura assim tão grande, sua imensidade, depois que eles
se foram. E vazia. Não mais vazia do que eu, entretanto, que passo meus dias a
contar minutos e passos pelos corredores. Mas vazia o suficiente para que me
sinta angustiada, sabendo que não posso estar em todos os cômodos ao mesmo
tempo. Nunca sei o que acontece onde não estou, como não sei o que aconteceu em
minha casa, as causas de tanta desgraça, enquanto estive fora. À tarde,
principalmente, ao cair da tarde, ouço as vozes dos dois conversando e rindo na
cozinha, se estou na sala; ou no quarto, se estou na cozinha. Tudo acontece
onde não estou. Quando me aproximo, calam-se e mudam de lugar. Como duas
sombras silenciosas, suas asas carregadas de pretas nuvens. Às vezes chamo um
dos dois, à noite, principalmente, quando
costumávamos estar reunidos, e tenho a impressão de ouvir a resposta.