
(Alvaro Santos Simões Junior)
Três narrativas juvenis?
Parece evidente que o tratamento editorial conferido a um texto interfere na leitura que dele se faz. No caso da literatura infanto--juvenil, formatos, capas, ilustrações, fontes e diagramação predis-
põem a determinados tipos de expectativas por parte do leitor. Da obra de Menalton Braff, quatro títulos foram editados de modo a atrair o público infanto-juvenil e, principalmente, identificar essas
publicações como pertencentes à modalidade. Para as crianças, destinou-se a breve mas encantadora narrativa intitulada Gambito. Para os adolescentes ou jovens, propôs-se a leitura de A esperança por um fio, Como peixe no aquário e Antes da meia-noite.

repressão da ditadura militar instaurada no ano anterior. Viveu depois em São Paulo, onde se formou em Letras, tornou-se professor de literatura e fez a sua estreia literária com um romance e um livro de contos em 1984, quando já contava 46 anos.2 Em 2000, recebeu o prestigioso prêmio Jabuti por À sombra do cipreste, livro de contos publicado no ano anterior.
O que se pretende examinar aqui é a hipótese de que Janela aberta, primeiro romance de Braff, que o assinou com o pseudônimo de Salvador dos Passos (nome do seu bisavô), pode ser considerado, a despeito da capa circunspecta e do tratamento gráfico convencional, uma narrativa juvenil. Não obstante o que se disse logo de início, as análises aqui desenvolvidas partem do princípio de que a caracterização de um texto deve ser essencialmente determinada por seu

Reconhecidas pelo próprio autor como obras juvenis, o qual assim as apresenta em seu site (www.menalton.com.br), Como peixe no aquário (2004), A esperança por um fio (2003) e Antes da meia--noite (2007) constituem o gabarito pelo qual se examina Janela aberta.
Tudo termina bem
Ao contrário do que ocorre nos sombrios contos e romances para adultos, 3 nas narrativas juvenis de Menalton Braff o final é sempre (mais ou menos) feliz.

Em Como peixe no aquário, Rita de Cássia, que era balconista de uma papelaria, apropria-se do dinheiro da venda de três cartuchos de tinta para impressora com a expectativa de poder logo devolver a importância ao caixa. No entanto, obrigada a arcar com incontornáveis despesas da família, passa quase cinco meses atormentada por remorsos e pelo medo de ser acusada do roubo até poder, enfim, repor o dinheiro e superar definitivamente o problema.
A vida de Artur, o protagonista de A esperança por um fio, muda repentinamente de maneira radical. Seu pai, arrimo de família, sofre um aneurisma e permanece em coma por cerca de oito meses.

perde o computador, a casa em que vivia, os amigos e, por escolha própria, a escola e os projetos de curso universitário. Embora profundo, seu sofrimento foi relativamente breve, pois o pai recupera-se de modo pleno após uma cirurgia decisiva.
Os problemas de Aline em Antes da meia-noite não são tão graves. Tratava-se de controlar a compulsão por conversas com amigos virtuais em chats e no MSN para evitar nova reprovação escolar. Assim como, segundo Machado de Assis, a personagem Juliana salva o interesse do romance O primo Basílio (1878), de Eça de Queiroz, os assaltantes da agência em que trabalha a mãe de Aline
emprestam à narrativa de Braff a tensão e o interesse que lhe faltam. Findo o assalto e libertada a mãe, que ficara refém por algumas horas, Aline pôde fazer para si mesma promessas de dedicar-se mais seriamente aos estudos e até mesmo entender-se com o namorado da mãe. Entretanto, reforçando ainda mais o caráter secundário do episódio do assalto, a moça controla sua obsessão pela