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sexta-feira, 10 de maio de 2013

UM CONTO PARA SEU FIM DE SEMANA

O conto abaixo faz parte da coletânea O peso da gravata ainda inédita.

Os óculos

    Entrou na cozinha com pernas atrasadas de tanta pressa e o suor alagando-lhe a testa, onde sentiu a explosão. Sua cabeça fez menção de voltar sozinha e sem óculos. Dedos trêmulos tatearam seu rosto à procura de sangue, mas assim no escuro era impossível distinguir a vida do esforço, tudo líquido e viscoso, uma coisa só. Então seus dedos nervosos descobriram a ausência dos óculos.

A porta aberta do armário?  A porta aberta do armário. Que mais poderia estar com a altura de sua testa no caminho entre a porta da cozinha e a chave, além da porta do armário?

De lábios abertos e dentes cerrados, aspirava um ar com ruído fricativo para expressar a dor que vinha chegando. A mão esquerda, apalpando o ar vazio, obstinada, procurava obstáculos. Com a testa doendo, qualquer objeto era obstáculo, porque estava noite.