Tenho um tio, sujeito grave muito dado a pensamentos graves,
que outro dia, num encontro familiar, discorria gravemente sobre escolher e ser
escolhido. Este colunista participava da reunião apenas como ouvinte, que saber
ouvir é uma de suas poucas virtudes. Mas era um ouvinte crítico, apesar de
silencioso. Relutava em aceitar os argumentos desse tio que, para ter crédito,
dispunha apenas de sua gravidade.
Hoje, finalmente, consegui entender o que aquele velho tio
cheio de gravidade queria dizer e verifico encabulado que minhas relutâncias
não passavam da resistência de alguém que se tem em alto valor. Sou o sujeito
de meu destino, arquiteto de meu caminho, pensava então. Quanta empáfia!