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terça-feira, 21 de agosto de 2012

A FAMÍLIA DA GENTE | CARTA CAPITAL



Tenho um tio, sujeito grave muito dado a pensamentos graves, que outro dia, num encontro familiar, discorria gravemente sobre escolher e ser escolhido. Este colunista participava da reunião apenas como ouvinte, que saber ouvir é uma de suas poucas virtudes. Mas era um ouvinte crítico, apesar de silencioso. Relutava em aceitar os argumentos desse tio que, para ter crédito, dispunha apenas de sua gravidade.

Hoje, finalmente, consegui entender o que aquele velho tio cheio de gravidade queria dizer e verifico encabulado que minhas relutâncias não passavam da resistência de alguém que se tem em alto valor. Sou o sujeito de meu destino, arquiteto de meu caminho, pensava então. Quanta empáfia!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

EM FAMÍLIA

Infância

Uma noite, ao chegar do serviço em cima de suas pernas dormentes, a cunhada a segurou na cozinha e com a voz escurecida de aspereza disse que assim não dava mais: reclamações dos vizinhos por causa de estrepolias dos dois meninos, a reforma da casa interrompida há mais de um ano, e as despesas excedentes, que vinham pesando muito no orçamento. Que desse um jeito em sua vida. Aproveitou a ausência momentânea do marido e disse tudo que vinha guardando há muito tempo como veneno espalhado por dentro de suas veias.

Os dois meninos na sala, com os primos, na frente da televisão. Era neles que a mãe pensava aflita, quase desesperada. Na cozinha pequena, as cunhadas frente a frente, muito existentes dentro da luz fria das duas luminárias, mudavam o futuro de lugar empurrando a vida com um ombro duro e pesado.

Naquela noite, ninguém, além da dona da casa, sabia por que Letícia tinha ficado no quarto sem querer jantar. E mesmo ela, Márcia, por várias vezes durante a refeição tinha perguntado a um e a outro por que será? As sobrancelhas erguidas repetiam a pergunta.

Os dois meninos comeram em companhia dos tios e dos primos aquela comida emprestada, sem nada perguntar.