quarta-feira, 1 de julho de 2020

CANTIGAS DE AMIGOS

A dor da gente 

(Sandra Modesto*)

A dor da gente
Um nó no peito em dó maior.
Depois os exames. Não tem mais jeito.
Cenário inesperado...
O sono profundo que enterra. Encerra.
Não há despedidas. Solidão.
Desnorteada. Sem velórios.
Dor de verdade não cabe num noticiário.
Não cabem nos jornais, os choros, gritos, a soma certa.
A estrada infinita do estranho mundo.
Valas. Não há vagas. Há marcas. Rimas perdidas.
Tudo vai passar? A dor de toda a gente, não.
O governo. O desmazelo com o povo.
Nada. O povo é nada.
A dor do mundo não cabe numa poesia.
E daí?
Daí o espasmo.
No próximo domingo
Quantas mães mortas?
Quantas mães arrumando o quarto...
Do filho que já morreu.
Tudo isso eu rasgo em lágrimas.
Eu vou silenciar o presidente.
Deixar de seguir o presidente.
Bloquear o presidente.
E daí? Eu me entrego ao acalanto de um amor:
_ Mãe, perdão. Ele não sabe nada de dor. A gente sabe.


*Mineira de Ituiutaba, professora aposentada precocemente. Graduada em Letras, pós – graduada em Educação. Dois livros publicados: Acenda a luz (prosa poética, editora Kazuá, 2015) e Tudo em mim é prosa e rima (Autografia, 2019). Cronista do CRÔNICA DO DIA e do JORNAL DE CARUARU. Poemas publicados em duas antologias: Elas e as letras, diversidade e resistência, editora Versejar e Ruínas- editora Patuá. Contato: modestosandralucia@gmail.com

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