sexta-feira, 22 de junho de 2012

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO (16)

QUANDO PARECIA TUDO CAMINHANDO BEM...

Pág. 84 - "Os tempos foram passando. Uma vez e outra visitaram os pais de Munakazi e eles recusaram abandonar a sua aldeia. De novo foram assaltados por uma tropa e mais comida foi roubada. E a irmã mais nova de Munakazi foi com os soldados, a mãe dizia que fora raptada, o pai, furioso, dizia ela até foi a rir, era mesmo o que queria."

"E um dia Munakazi desapareceu. Foi assim. Ulume dormiu na cubata de Muari. De manhã, ao esfregar os dentes, não sentiu a presença da segunda mulher. Ele e a Muari procuraram na capoeira, não estava.
- Deve ter ido ao rio - disse a Muari.
Não estava nos hábitos de Munakazi ir logo ao rio, mas uma noite mal dormida podeia levá-la a mudar os hábitos."
Pág. 85 - "(...) Voltaram ao kimbo e Ulume entrou na cubata de Munakazi. Constatou só então que estava praticamente vazia. A esteira, os utensílios, o cobertor, tudo desaparecera."
(...)
"- Amanhã vou ver se está na casa dos pais - disse Ulume."
(...)
"Mas não estava. Nem tinham nenhuma notícia. E começaram as lamentações, o que aconteceu à minha filha? A mãe era a mais efusiva e passou logo ao ataque:
- O que é que lhe fizeste? Dizes que fugiu, que levou as coisas dela, então é porque lhe fizeste algum mal."
Pág. 86 - "Ulume abanou a cabeça.
- Não sei se fiz. Nunca lhe tratei mal, quando faltou comida era para todos que falatava. (...) Nem a vocês veio queixar. Não o devia pelo menos fazer, se a magoei muito?"
Pág. 88 - "(...) Só mesmo com muito maluvo podia superar a vergonha e foi mesmo disso que se lembrou. Mandou vir todas as reservas existentes no kimbo para consumir com Ulume nessa noite. E amaciá-lo.
- A Munakazi deve ter ido para Calpe - disse o pai, já depois de terem bebido um bom bocado.
- Quando discutimos a mudança para o Vale da Paz, ela disse que do kimbo só saía para ir para Calpe. Acabou por ir connosco, mas durante muito tempo não falava, nem com a Muari."
(...)
"- Ela e a irmã estavam sempre a falar nisso, antes do casamento."
(...)
"Ulume dormiu na casa dos sogros. Percebeu que o pai de Munakazi estava preocupado com a questão do alembamento e que por vezes tentava abordar o assunto, sobretudo depois de muito terem bebido. Mas Ulume não estava interessado em falar nisso."
Pág. 89 - "Se despediu, mal os primeiros alvores apareceram."
(...)
"A ressaca também fazia doer a cabeça de Ulume, mas ele nem notava. Caminhava maquinalmente, quase correndo para a fidelidade da Muari e a tranquilidade do Vale da Paz, todo concentrado na outra dor, a profunda, a que não mais o abandonaria, a dor da perda de Munakazi, aquela saudade tão antecipada que tinha começado quando a granada ainda vinha no ar."

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