O poema abaixo é do livro Corpo portátil, do Fernando Fiorese, poeta amigo de Juiz de Fora.
Note-se a estrofação típica do vilancete praticado no período da Poesia Palaciana, que precede o Classicismo. Coisa de quem conhece.
Tríptico do mar
1.
Já não há bestiários neste mar,
jornal aberto entre as sombrinhas
e aquelas ilhas, um poema épico
traduzido sem as entrelinhas.
Não reconheço em ti a vertigem
de quem olha do alto, no escuro,
pressentindo sereias e rêmoras;
mas açude, cisterna, aquário,
estampa de um mundo infantil,
emoldurado por gaivotas
e navios de papel, prosaico
como a retórica das ondas.
2.
Para que permaneças lago,
resistirá a tarde, e contra ela
pouco pode um corpo portátil,
senão esbater-se na janela.
E assim, do horizonte esquecido,
ser apenas rumor e espera,
um corpo sem cor nem sentido.
Ainda que o céu se precipite
para dissolver teus limites,
demora cifrar em enigma
o que nunca inteiro se entrega
sem dança, febre ou esgrima.
3.
Como um corpo vizinho ao fóssil,
o mar desconhece as idades,
tantas cumulou nos naufrágios
até ficar rígido de ossos.
Véspera da pirâmide, um muro,
dir-se-ia acerca do mar noturno,
não soubesse que o mar é mais
mar quando não se pode vê-lo,
apenas ouvir em seus ruídos
os passos de um suave assassino,
as engrenagens do relógio,
pulsando contra a eternidade.
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