quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

CANTIGAS DE AMIGOS

Não, não fui amigo do Walmir Ayala. Quando conheci sua tia (ela era minha vizinha e eu ainda adolescente), ele já era poeta famoso no Rio de Janeiro. Mas conheci os cadernos de poesia, com dezenas de poemas, que ela zelosamente guardava. Era por volta de meus catorze anos, e a vizinha tinha ouvido falar do menino que amava a poesia. Me chamava do seu quintal e dizia - Vem ver! - e eu ia, lia deslumbrado, porque eram os primeiros exercícios de um poeta já consagrado.
De seu A pedra iluminada foi que tirei esta sua

         ELEGIA

Já tenho amigos suicidas,
já tenho amigo estrangulado
já tenho os mortos de câncer,
rico, pobres, deplorados,
angustiosos, desesperados,
amigos de todas as sagas
no fundo do tempo jogados.

 De repente abro muito os olhos
e só vejo a estes meus amigos
pobre sociedade escusa
em cemitérios taciturnos.

E penso em lhes matar a fome,
em lhes cerrar os olhos duros,
tudo em vão - meus amigos choram
sem boca e sem olhos futuros. 

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