quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

CANTIGAS DE AMIGOS

Poema de Antônio Luceni, publicado no livro
Mosca Feliz.

         BEM-TE-VI

Um bem-te-vi me acordou,
na janela do meu quarto,
com um terrível grito.

Disse que, ao sobrevoar a cidade,
vira coisas terríveis:
uma mulher a maltratar seu filho,
um homem a assassinar um amigo,
um velho sendo surrado,
uma senhora sendo roubada,
e vísceras em pilha no chão.



Ouvira planos secretos,
segredos e armadilhas
de homens maus que buscavam
fazer mal a outros homens.

Um bem-te-vi,
testemunha ocular do mundo,
de anjos e vagabundos,
o mundo todo a olhar.

Que fiquem com as suas rezas,
Que guardem as suas rezes,
Que se misturem entre as suas fezes...

Pode gritar, bem-te-vi,
entendo o seu desespero,
estou aqui, por inteiro,
pronto ao seu clamor ouvir.

Sobressaltado eu pulo,
desperto a mim desse sono,
levanto desse tempo futuro,
abro a janela, enfim.
assustado, bem-te-vi voa longe,
sai pela cidade a voar,
pra outros vai reclamar:
- Não quis o meu grito ouvir.
Que levava um tanto aflito,
o coração mui contrito,

com o jeito em que o mundo está.

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