quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

CANTIGAS DE AMIGOS


Mais um poema do Romar Beling.

 A poesia

respiro o mesmo ar
o mesmo ar
que Petrarca
e Dante
um dia respiraram

tudo bem que foi
reinventado essa madrugada
pela figueira ou pela bétula
e que um jasmim perfumou
com seus ensaios de amanhecer
essas pinceladas de oxigênio



tudo bem que foi
restaurado essa noite
pela corrente das marés
do Atlântico
nessa eterna faina
das escrituras aquáticas


mas respiro o mesmo ar
e se um dia
ele me faltar
não é a um verso
que me apegarei
para ingressar
na eternidade


apenas no fato de que,
se respiro o mesmo ar,
também respirei
(e ao menos isso)

o ar

do tempo dela

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